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ROSANGELA POLITANO - ENCONTRO DE FOLIAS DE REIS EM SÃO LUIS DO PARAITINGA - 2014

ACERVO SEM PAREDE

Primeiros Passos

 

O amigo e escritor Auro Malaquias dos Santos sugeriu, em uma ocasião em que conversávamos sobre arte naïf:

 

“Por que você não escreve um livro sobre arte naïf ?”

 

Confesso que gostei da ideia, mas antes de começar fui pesquisar se existia alguma publicação ou material sobre a arte naïf no Brasil e para minha surpresa não encontrei muito material e nenhuma publicação escrita por um artista Naïf sobre a arte que ele mesmo produzia; então tomei coragem e comecei a esboçar um texto, conforme ia escrevendo chegava às minhas mãos muito material sobre a arte Naïf no geral, algumas raras como as publicações da revista “O Cruzeiro” da década de 1950 a 1965, entre elas uma entrevista com a artista plástica Djanira, com um rico acervo de fotos do ateliê no Bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde ela viveu por muitos anos, e do seu refúgio em Parati.

A ideia de escrever este livro tomou corpo e forma e naquele momento eu percebi a grande importância que a arte e os artistas naïfs têm na história das artes visuais, tanto a nível nacional como global, afinal a arte não tem fronteiras.

Por diversas vezes os artistas naïfs foram ignorados, subjugados e até excluídos, porém a força que é encontrada nas obras de cada um, aliada com o tempo de existência é maior que qualquer critica de curador ou rotulação. O artista naïf pinta o mundo como ele vê, de uma forma individual utilizando as experiências auto biográficas que tem, trabalha de uma maneira livre, sem seguir uma determinada forma ou regra de pintar, podemos dizer que o artista naïf, na maioria dos casos, pinta de forma natural.

Com essa obra espero alcançar os artistas plásticos naïfs e a população brasileira em geral e despertar neles a consciência da grande importância da arte naïf no Brasil e no mundo.

No panorama nacional a arte naïf é popularizada a partir da década de 1930, mas apesar de já ser produzida nos primórdio da humanidade, ela ainda é pouco conhecida e divulgada, pois não se aprende sobre arte naïf nas escolas. Outra questão importante é que através dos temas abordados pelos artistas é que a arte dá voz a quem não tem vez; pois encontramos critica social, questões contemporâneas, reafirmação da cultura popular e do folclore, sendo representada em cada obra, que é única e é produzida em todo canto do Brasil. O livro Olhos Naïfs foi pensado para os leigos no assunto, todos se perguntam, afinal o que é a arte Naïf? Será que eu sou um artista naïf? E qual é o tamanho desta arte na nossa cultura? É para responder a essas questões que elaborei este livro e fiquei muito surpreso ao concluir a pesquisa.

Quando a conclui, descobri que o artista Henri Housseau, principal responsável pelo termo Naïf, foi no primeiro momento até acolhido por aqueles que também foram excluídos dos salões de arte oficial de Paris, porém ele foi aos poucos sendo excluído até mesmo entre os excluídos, devido às duras criticas que suas obras recebiam. Em algumas exposições suas obras eram colocadas em salas distantes ou junto com as obras chamadas de arte decorativa, de valor inferior.

Consultei vários livros, catálogos, visitei museus e exposições em busca de informações sobre a arte Naïf, encontrei pouquíssimas publicações, porém de excelente qualidade.

Ainda recebo material sobre a arte Naïf de amigos e artistas que sabem sobre a pesquisa, alguns deles serão citados no livro, devido ao seu envolvimento com a arte. Selecionei depoimentos sobre o que cada um espera para a arte naïf no futuro.

Esse livro foi escrito por um autor e várias mãos!

Convido ao leitor a trilharmos juntos os caminhos de pedras coloridas da história da Arte Naïf e caminharemos juntos por museus que guardam em seus acervos obras de quase cinco mil anos, ver como ela foi se desenvolvendo junto com a própria civilização. Vamos conhecer as obras do excluído dos excluídos, o aduaneiro Henri Housseau, que corajosamente abriu caminho para outros artistas autodidata na agitada Paris da virada do século XIX para o século XX, a mesma cidade que vivia um clima de agitadas revoluções culturais, passaremos pela repercussão da arte naïf pela França, onde surgiria novos adeptos da arte naïf.

Descobriremos juntos outros artistas espalhados pelo mundo, tendo destaque nos EUA, Haiti, França, Ex Iugoslávia (atual Sérvia e Montenegro) e iremos acompanhar a chegada do termo naïf no Brasil dos anos de 1930, logo após a Semana de Arte Moderna de 1922, num cenário de redescobrimento cultural do Brasil por seus artistas brasileiros.

A arte naïf no Brasil é de uma importância enorme, pois foi em solo nacional que ela encontrou terreno fértil, às produções que valorizam nossa cultura até a atualidade, como temas ligados a nossa realidade nacional, nosso folclore e nossa mistura étnica.

Vamos conhecer os primeiros artistas a utilizar o termo Naïf no Brasil como Cardosinho, Heitor dos Prazeres, Djanira, Maria Auxiliadora, Chico da Silva e Mestre Vitalino. Destacarei também o importantíssimo movimento da chegada dos artistas Naïfs na Praça da República no coração da cidade de São Paulo, nos anos de 1960 e que na história da arte Naïf nacional tem a mesma importância que a Semana de Arte Moderna de 1922, porém passou despercebida devido ao clima político da época.

Os artistas Naïfs da Praça da República contribuíram muito para que algumas galerias abrissem seus espaços e promovessem exposições de arte naïf, esses mesmos artistas polemizaram e escandalizaram os meios culturais com suas obras, é o caso de Waldomiro de Deus e sua Nossa Senhora de Minissaia.

Não dá para falar de arte Naïf no Brasil sem falar de Waldomiro de Deus, um importante artista brasileiro que levou um pouco de nossa cultura para exposições fora do Brasil, destacamos principalmente as feitas na Europa e em Israel, esse mesmo artista mudaria o rumo das artes plásticas, não apenas a Naïf, o que já seria muito, mas também a da arte contemporânea brasileira de forma marcante e radical.

Acompanharemos os artistas no surgimento e desenvolvimento de grandes conquistas culturais, como as ações culturais em Embu das Artes - SP , a criação do Museu do Sol em São Paulo e posteriormente a transferência do acervo para a cidade de Penápolis - SP, a criação do Museu Internacional de Arte Naïf no Rio de Janeiro - RJ, a criação, desenvolvimento da Bienal Naïfs do Brasil promovida pelo SESC Piracicaba – SP, o surgimento do Museu de Arte Popular de Diadema - SP, região do Grande ABCD Paulista, museu que tem um rico acervo de arte Naïf e vamos acompanhar o movimento do Grupo de Arte Frontispício e suas ações culturais na região do Alto Tietê, arredores de Mogi das Cruzes - SP.

Tudo que foi escrito mostra que a arte Naïf no Brasil tem muita bagagem, que muito foi feito e que muito ainda temos que fazer para promovê-las, arte como um todo e mesmo com todas as dificuldades financeiras e culturais, que ainda enfrentamos nos dias de hoje, espero que ainda continuem surgindo novos artistas Naïfs em todo o mundo, pois a arte Naïf tem o poder de estar sempre se renovando para continuar a existir.

 

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