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IMAGENS: DA ESQUERDA PARA A DIREITA: A Família Schuffenecker do artista Paul Gauguin, detalhe da obra Tecelão visto de frente, de Vincent van Gogh, 

A ARTE NAÏF ANTES DA ARTE NAÏF

 

Ao pesquisar o acervo de vários museus, coleções particulares e catálogos de exposições, chegou as minhas mãos um catalogo de pré criação do Museu Internacional de Arte Naïf do Rio de Janeiro, que tem como título “O MUNDO FASCINANTE DOS PINTORES NAÏFS”, que catalogava uma exposição feita no período de 15/12/1988 a 19/02/1989, no Paço Municipal, Praça XV, Rio de Janeiro. Esse material foi muito importante e ponto de partida para as pesquisas sobre a origem da arte Naïf na história da arte universal, ao ver o catálogo fui surpreendido, pois apresentava algumas obras feitas num período anterior ao século XIX, quando o termo “Naïf” foi utilizado pela critica para se referir ao trabalho de Henri Rousseau. O catálogo em questão trazia imagens de obras feitas a partir do século XVII, XVIII e primeira metade do século XIX, com base nessa informação, deduzi que a arte Naïf poderia ser muito mais antiga que eu poderia imaginar, comecei a pesquisar em acervos com obras mais antigas.

Algum tempo depois chegou as minhas mãos um pequeno livro em forma de catálogo com o título de Naïve Art, publicado na Europa, esse livro me surpreendeu muito, pois trazia não apenas a produção de arte Naïf convencional, de olho apenas no nome do artista e na técnica, mas o autor procurou buscar o olhar ingênuo dos artistas por de tras da obra. A surpresa ao ler o livro é que foi incluído junto da produção de arte Naïf, obras de artistas, que até então não eram considerados artistas Naïfs, caso da obra Tecelão visto de frente, de Vincent van Gogh, feita em 1884, atualmente no Rijksmuseum de Amsterdã, a obra A Família Schuffenecker do artista Paul Gauguin, feita em 1889, atualmente no Musée d‟Orsay de París, a obra Rostos numa paisagem primaveril (O Bosque Sagrado) de Maurice Denis, pintada em 1897, atualmente no museu Pushkin de Belas artes de Moscou e Moça com tulipas (Retrato de Jeanne Vaderin), Pintada por Henri Matisse em 1910, no Museu Hermitage de São Petersburgo na Rússia. Verificando as imagens das obras, constatei que realmente o autor estava correto ao incluir tais obras num livro de arte Naïf, pois tinham uma forte ligação com a pintura Naïf, tanto pelas técnicas simples, pelo colorido e principalmente pela sinceridade de cada artista ao pintar a obra.

O livro ainda trazia duas obras com o mesmo título A Guerra da Independência, ambas pintadas em 1877 e em coleções particulares. Uma foi pintada pelo artista Emil Pavelescu e outra pelo artista Traian Ciucurescu, como foram pintadas num período antes da primeira exposição de Henri Rousseau, mas foram considerada pelo escritor como pintura Naïf, e realmente são, novamente venho à minha cabeça a pergunta que o autor do livro fez, logo no início do Livro:

 

Que idade tem a Arte Naïve (Naïf)?

 

Essa pergunta foi crucial para dar início a pesquisa e determinar o caminho que eu iria seguir, tendo duas opções. A primeira partindo do ponto de aceitação da pintura Naïf, no Salão dos Recusados de Paris, logo depois sendo aceita como arte de igual valor, comparada a qualquer outra manifestação da pintura, ou seja tendo como ponto de partida o final do Século XIX. A segunda opção seria olhar ainda mais para o passado na linha do tempo, afinal quando se fala de pintura Naïf, obrigatoriamente temos que voltar os nossos olhos para passado, para ver o longo caminho que ela percorreu até o atual momento.

Escolhi voltar os meus olhos, livres de qualquer preconceito estético, ainda mais no tempo, indo mais para o passado, visitando museus, exposições e até mesmo locais onde a pintura assume uma postura de ter outra finalidade, decorativa, doutrinária e representativa de atividades sociais, folclóricas e do cotidiano.

Uma das diretrizes utilizadas para definir os principais pontos de busca pela arte Naïf através da história foi um texto publicado numa divulgação da exposição Com Açúcar & Com Afeto ocorrida em 2011, nas cidades de Araraquara e Campinas, ambas no Estado de São Paulo, onde segundo Mariza Campos da Paz, Presidente da Fundação Lucien Finkelstein na época:

 

A Arte Naïf nos acompanha desde o período das cavernas e volta a se manifestar em todos os momentos que a arte teve que recomeçar do Zero como, por exemplo na Idade Média, com a Arte Românica, e nos primórdios da Arte Moderna.

 

Tendo como base essa informação e acreditando que não apenas eu, mas uma segunda pessoa tinha o mesmo ponto de vista, comecei a pesquisar e definir um primeiro ponto de partida. O ponto de partida foi difícil, pois encontrei algumas imagens de pinturas rupestres, na Serra da Capivara, Sertão do Nordeste Brasileiro, nas cavernas da Espanha e até em pedras pintadas por aborígenes da Austrália, porém eu não queria que a arte naïf fosse confundida novamente com arte rupestre, então pesquisei num período em que a arte estava mais desenvolvida.

O nosso primeiro lugar de pesquisa histórica fica longe, nossa primeira parada é no Museu Egípcio do Cairo.

Uma observação deve ser mencionada nesse capítulo: No decorrer do livro alguns especialistas e pesquisadores da Arte Naïf vão ser citados, algumas vezes eu irei concordar com eles, outras vezes eu irei discordar, o que torna essa obra única, pois assim permite que o tema do livro seja visto de formas distintas, ampliando ainda mais a visão sobre a produção da arte Naïf contemporânea, a partir do olhar do próprio artista e dos especialistas, sem excluir ninguém, promovendo até mesmo futuros debates. A Principal característica que busquei foi voltar no tempo e dar destaque para os principais momentos em que a arte teve de recomeçar, ou buscar novos valores técnicos e ideológicos, para continuar a evoluir.

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