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Hieronymus Bosch - As Tentações de Santo Antão - (1500)

O NAÏF NA PINTURA FLAMENGA (SÉCULO XVI d. C.)

 

A Pintura Flamenga é a arte que floresceu nas cidades de Flades, Brabante, Limburgo, nos territórios de Hainaut, Namur e Liège. A partir do século XI. A maioria das cidades destacadas faziam parte da Holanda e estão no atual Estado Belga formado (1830). Podemos considerar como a base da pintura na região dos Países Baixos.

A pintura Flamenga tem como representantes grandes e famosos artistas, e estão entre eles nomes como Jan van Eyck, Roger van der Weyden, Hans Memling, os Brueghel, Bosch, Anton van Dyck, e Rubens. Aos pintores Flamengos devemos a criação da Natureza Morta, os temas de interior, como os temas das tabernas e da vida doméstica, temas e formas de pintar que vão aparecer em vários estilos através dos tempos, inclusive na própria pintura Naïf.

A primeira vez que vi um quadro de pintura Flamenga foi no MASP (Museu de Arte de São Paulo), museu ao qual sempre vi com grande curiosidade. O quadro em questão é a obra “As Tentações de Santo Antão”, pintado por Hieronymus Bosch em 1500. Bem a obra contribuiu para que eu entendesse a grande importância da pintura Flamenga para a história da arte. A partir disso pesquisei outras obras de artistas do mesmo período e foi aí que ao assistir o filme Sombras de Goya do diretor Milos Forman, onde foi apresentada uma cena onde dois personagens observavam um quadro representante da pintura Flamenga, mas que pela alegria do tema, a luminosidade, as cores e a visão lúdica, percebi a nítida relação com a pintura Naïf. No momento eu nem estava pensando em escrever o livro, mas posteriormente tive a curiosidade de pesquisar sobre a obra.

Vamos Viajar novamente até o Museu do Prado em Madri, na Espanha, é lá que encontramos a obra O Jardim das Delícias, pintado por Hieronymus Bosch entre 1500 a 1505, e qual foi a minha surpresa ao descobrir que as duas obras, a do MASP e do Prado foram pintadas pelo mesmo autor.

Hieronymus Bosch - O Jardim das Delícias - (1500 a 1505)

ORIGEM: https://arrabalicias.wordpress.com/2011/04/28/o-jardim-das-delicias-terrenas-bosch/

O Jardim das Delícias é um tríptico, um conjunto de três painéis unidos pelas molduras com dobradiças. O primeiro, a esquerda mostra a cena do Paraíso com a Criação de Adão, Eva e dos animais, o terceiro, a direita mostra a visão apocalíptica do inferno ou mesmo do fim do mundo, na primeira vez que observei, me passou a impressão de que o terceiro painel não seria original e não faria conjunto com os outros dois anteriores, que fora colocado apenas para não deixar de ser um tríptico, mas com um olhar mais atento deu para observar que os três painéis dialogam entre si pela linha do horizonte, e não apenas pelo tema; porém é no painel central que encontramos muitas referências, e é por causa dele que o conjunto tem o nome tão sugestivo.

O que mais me surpreendeu, desde que vi a obra pela primeira vez, foi a época em que a obra foi pintada, em 1500, o continente Americano tinha acabado de ser “descoberto”, os europeus ainda não compreendiam que o mundo era tão grande, que as pessoas eram tão diversas, que ainda tinham tanto para conhecer de um mundo ao qual tinha acabado de abrir as fronteiras marítimas. Ao ver, com olhos de artista Naïf, a obra antecipa toda a revolução da pintura ocorrida em París no final do século XIX e antecipa também toda a pintura Surrealista do século XX, quatro séculos antes de tudo isso acontecer, a obra estava muito a frente da época em que foi pintada.

Eu citei especificamente o Jardim das delícias não por acaso, pois ele dialoga com a pintura Naïf contemporânea em muitos pontos, pelo tema, com plantas exóticas, a paisagem, as árvores com suas folhas pintadas de verde e iluminadas por um amarelo, fazendo parecer que foram pintadas uma a uma, exatamente como ocorre na Pintura Naïf de hoje, a diversidade de animais, a harmonia do colorido de um dia ensolarado, a diversidade étnica, pois mesmo com as fronteiras sendo abertas, com os descobrimentos marítimos da época em que ele foi pintado, Bosch incluiu pessoas negras vivendo em harmonia com pessoas brancas, algumas loiríssimas. Não tem conflito. Uma não é escrava da outra e sim uma completa a outra, nesse ponto a obra dialoga inclusive com a pintura Naïf Contemporânea Brasileira.

Outro ponto que chama a atenção são as construções futuristas, em que vemos nas formações rochosas e a grande escultura da Fonte Central, algo que poderia ser impossível de construir, com a tecnologia da época em que a obra foi pintada, mas totalmente possível, com o moderno concreto armado que utilizamos hoje em dia na construção civil.

Na obra todos estão brincando, não há velhice, também não encontramos crianças, mas podemos ver adultos brincando como se fossem crianças, entre si e com os animais, puxando o rabo de um inseto gigante, fazendo cabo de guerra com um pássaro, cavalgando sobre um peixe gigante, tudo dialoga magicamente com a pintura Naïf.

O Jardim das delícias consegue dialogar com as obras produzidas pelos artistas brasileiros Raquel Gallena, Marineis Dias, Lia Mittarakis, Henry Vitor e Geraldo Amaral do Nascimento, entre outros. As obras dos artistas citados dialogam naturalmente com a obra de Bosch, pelo formato, cores e uma infinidade de signos, símbolos cheios de significados, produzindo uma obra com várias mensagens e interpretações.

A obra “Jogos Infantis” de Pieter Brueghel ou Bruegel, conhecido como O Velho, tem o poder de dialogar com a obra de Bosh e consequentemente com a pintura Naïf contemporânea, pois o mesmo tema foi abordado por diversas vezes pelos artistas Naïfs na atualidade. A obra em questão mostra uma cidade povoada por crianças, que brincam com os mais variados jogos, alguns jogos chegaram aos nossos dias, como a perna de pau, gangorra, pião, cavalo de pau e circulo no palito, que foram abordados pelo artista. O curioso é que a cidade não tem adultos, ela é povoada apenas por crianças, que tem aparência de gente grande, mas não são adultas, pois o tamanho é desproporcional se comparadas com o tamanho das casas. Outras obras de Pieter Brueghel mostram um mundo lúdico e às vezes caótico, uma verdadeira bagunça, alguns especialistas dizem que a obra dos dois artistas passavam uma mensagem de valores religiosos, através do simbolismo ou signos, transmitido ao olhar do observador uma postura moral, que tem como base, parábolas e ditos populares da época, construindo assim uma pintura muito popular, original e por diversas vezes, considerada à frente da sua época.

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