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Ambrógio Lorenzetti - Efeitos do Bom Governo -  (1337 a 1339 d.C.)

PRIMITIVO ITALIANO NA CIDADE DE SIENA (SÉCULO XIV E XV d. C.)

 

É na produção artística da cidade italiana de Siena que encontramos referências ao Primitivismo ou Primitivo Italiano e é nessa época que o termo é utilizado pela primeira vez de fato, ao descrever a produção artística de uma região, dialogando num mesmo estilo de expressão artística. O Primitivismo Italiano contribuiu, em muitos aspectos para preparar o solo, para a chegada do Renascimento Italiano, um período onde as técnicas de produção de tintas evoluíram muito, produzindo novas cores, com melhor qualidade e que duravam mais, prolongando a vida das obras de arte por séculos. O Termo Primitivo Italiano foi criado para classificar as obras de alguns artistas italianos de Siena, que tiveram grande contribuição para a evolução das artes plásticas como um todo, e Primitivo por que vem antes do Primeiro Renascimento, no século XV. Seria impossível compreender a pintura colorida de Masaccio, já pertencente ao Primeiro Renascimento, sem falar do que foi produzido anteriormente a ela.

O mais incrível no surgimento da Pintura Primitiva em Siena é que a sociedade da pequena cidade república passava por crises na sua região. Durante a segunda metade do século XIV muitos foram os problemas que essa cidade italiana passou como a guerra pela hegemonia da Toscana contra a cidade de Florença, pelas lutas civis, pelas conjurações, pelos levantamentos, pela fome e a Terrível Peste Negra que no ano de 1348 d. C. transformou Siena numa cidade fantasma. Como, com tantas adversidades, uma produção artística pode surgir e prosperar? A resposta é muito simples, o ser humano tem uma necessidade vital de se expressar pelas artes, muitas vezes é no pior momento de crise social que surgem inovações e obras mais criativas, que criticam a atual situação ou dão esperança por novos tempos que estão por vir, é esse o caso da pintura de Siena daquele período.

A obra prima da produção artística da cidade de Siena é o Retabulo de La Maestà de Siena, que podemos considerar como uma obra divisora de águas da história da pintura italiana em Siena. Pintado por volta de 1308 a 1311 por Dúcio di Buoninsegna, que abre caminho para uma leva de artistas de Siena, que virão em seguida, dando novas possibilidades cromáticas, na qual podemos encontrar ainda referências do Gótico Tardio Italiano, que virá a seguir e da Pintura Bizantina, porém com um novo colorido brilhante, que irá influenciar positivamente os artistas primitivos italianos num segundo momento. O retábulo permaneceu na capela mor da catedral até o século XVI, quando os gestores da ordem consideraram que a obra estava em desacordo com o gosto artístico da época e substituíram a pintura por um altar de mármore em estilo Renascentista. O Retábulo se encontra no Museu dell’Opera. Quando ele foi retirado do interior da Catedral alguns fragmentos foram vendidos e posteriormente incorporados em outras importantes galerias, como a National Gallery de Londres, Museu de Berlim, a Coleção Frick de Nova York (E.U.A.) e na nossa próxima parada, National Gallery of Art de Washington nos Estados Unidos.

Duccio di Buoninsegna - O Chamado dos Apóstolos Pedro e André -  (1308 – 1311 d. C.)

ORIGEM: http://tulacampos.blogspot.com.br/2012/07/salve-sao-pedro.html

O Acervo da National Gallery of Art de Washington, guarda a obra O Chamado dos Apóstolos Pedro e André, datado de 1308 – 1311, do artista Duccio di Buoninsegna, nele podemos encontrar elementos comuns na pintura Naïf como o antinaturalismo do barco, que apesar de estar flutuando na água o espectador pode ver a parte de baixo do barco, como se estivesse voando, a figura bondosa de Cristo está na margem rochosa do rio, lembrando uma influencia do Gótico tardio e o fundo é pintado por apenas dourado, uma influência da arte bizantina, o colorido brilhante a gostosa cena simples do cotidiano dos pescadores surpreendidos pelo Cristo, a ingenuidade das figuras de Pedro e André, são elos de diálogo com a pintura Naïf Contemporânea.

Voltemos à cidade de Siena na Itália, para encontrar outra obra de incrível criatividade. Agora vamos ver o Palácio Comunal de Siena para ver a pintura Mural, que recebe o título de Efeitos do Bom Governo (primeira Imagem na parte superior da página), pintada pelo artista Ambrógio Lorenzetti, realizada por volta de 1337 a 1339 d. C., onde podemos ter uma belíssima visão da cidade de Siena no século XIV, num raro período de paz, onde homens constroem casas, um agitado comércio anima a cidade, um grupo de pessoas tocam música e dançam em roda, na porta de entrada da cidade, cena que podemos ver na produção artística de vários artistas Naïfs contemporâneos, como Djanira e suas pinturas, que tem como tema a cidade de Salvador na Bahia e seus costumes e tipos populares, até mesmo nas festas campestres do interior do Brasil.

Ambrógio Lorenzetti - Cidade à Beira Mar

ORIGEM: httpportaldoprofessor.mec.gov.brfichaTecnicaAula.htmlpagina=espaco%2Fvisualizar_aula&aula=55825&secao=espaco&request_locale=es

A obra Santo Antonio Abade Repartindo os Seus Bens, provavelmente pintado entre 1440 a 1450, que está na National Gallery de Washington, é uma obra classificada em muitos livros e já aceito pelos especialistas em Arte como uma pintura pertencente ao Primitivo Italiano, e é de pintor anônimo, porém conhecido pelo pseudônimo Maestro dell’Osservanza. Esse Pintor foi muito provavelmente discípulo de Sassetta, a quem por muito tempo se atribuiu esta obra, mas se distingue um gosto mais pronunciado pela composição plana, bidimensional, que repele toda a sugestão de perspectiva em profundidade, dando a ilusão de espaço a três dimensões. Deste modo, as suas composições adquirem um ar de lenda fantástica e todo encanto dos pintores chamados de Primitivos. Na obra podemos ver os excluídos das ruas, uma mãe solteira, com dois filhos, uma senhora idosa, um cego guiado por um cão, um mendigo descalço, com a sua roupa já se desfazendo. Todos estão esperando a repartição das moedas de ouro que o santo está distribuindo.

Sassetta - Bodas Místicas de São Francisco - (1440 d. C)

Outra obra de Sassetta que dever ser comentada é a pintura Bodas Místicas de São Francisco, que foi pintada em 1440 d. C.

A obra está no Museu Condé em Chantilly na França. A cena se desenrola em dois tempos sucessivos, algo que nos leva a classificar a obra como pintura de continuidade, que já vimos nas iluminuras da Arte Cópta, séculos antes da tábua de Sassetta ser pintada. Na obra São Francisco entrega o anel de esposa à pobreza, que assim como ele esta descalça e usando um vestido verde, acompanhada por duas figuras alegóricas gêmeas da pobreza, usando vestidos branco e vermelho. Num terceiro plano as três figuras ascendem ao azul do céu. No plano de fundo podemos admirar o perfil do Monte Amiata, tal como ele é visto da cidade de Siena, simultaneamente a pobreza olha para trás e olha para o seu próprio passado. No lado direito da obra, em primeiro plano vemos a entrada de um castelo, ou da própria cidade de Siena, aqui já aparece o antinaturalismo da pintura Naïf, pois o castelo é menor que os personagens, apesar de estar em primeiro plano assim como eles, algo que vamos verificar posteriormente na obra Os Jogadores de Râguebi, de 1908, pintada por Henri Rousseau. Tanto nas obras dos pintores do Primitivo Italiano como de Rousseau os personagens não tem sombra, uma característica antinaturalista comum na produção de pintura Naïf ao longo da história.

Outros nomes de artistas de Siena deste período devem ser falados, como Tadeo di Bartolo, Stefano di Giovanni di Consolo, Matteo di Giovanni e Sano di Pietro. Todos deram importantes contribuições para a pintura de Siena. Os pintores primitivos de Siena nos deixaram de herança uma expressão com frescor imaginativo, encanto poético, e uma visão espetacular do colorido do mundo, que mantemos na nossa pintura Naïf até os nossos dias.

O diálogo e a conexão com a arte naïf contemporânea se dá por exemplo na solução que os artistas primitivos italiano davam na hora de resolver os problemas técnicos de traçar as linhas dos muros da cidade como vemos na obra de Ambrógio Lorenzzeti. Isso pode ser visualizado na forma como muitos artistas naïfs contemporâneos pintam, resolvendo com simplicidade e utilizando a cor para dar volume, algo que podemos observar nas paisagens urbanas de Agostinho Batista de Freitas, na simplicidade colorida das produções de Arieh Wagner ou na sobre posição das casas na paisagem urbana das obras de Wilma Ramos.

O colorido das obras, cenas comuns do dia a dia, a falta de sombra e a ingenuidade dos personagens são características das Pinturas Primitivistas Italianas, que nós artistas naïfs preservamos até a atualidade nas nossas obras.

Agostinho Batistas de Freitas - Vista do MASP (Museu de Arte de São Paulo) - década de 1970

Acervo do MASP

Agostinho Batistas de Freitas - Arcos da Lapa - década de 1970

Acervo do MIAN (Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil - Rio de Janeiro)

Arieh Wagner - Pintura no Museu Judaico em São Paulo - 2015

Acervo do Artista

Wilma Ramos - Feira Livre com grupo de Baianas - 2006

Acervo da família Ramos

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