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MOSAICO NO INTERIOR DA IGREJA DE SANTO APOLINÁRIO O NOVO TESTEMUNHA - RAVENA- ITÁLIA.

ORIGEM:http://porciunculaniteroi.com.br/santododia/santa-cristina

PERÍODO BIZANTINO, PRODUÇÃO DOS MOSAICOS E PINTURAS NAS PAREDES (SÉCULO VI d. C.)

 

Em março de 330 d.C. foi celebrada a cerimônia de consagração da Metrópole de Bizâncio, que seria conhecida nesse período como Nova Roma. Nos períodos dos séculos VI e VII Roma sofrerá profundo influxo oriental, agora a cidade de Bizâncio ou Constantinopla como se chamou depois, na atual Turquia, já é uma realidade. A nova Capital do antigo Império Romano já está de pé, com seus edifícios, átrios e igrejas, as grandes famílias de nobres romanos, já se transferiram para os palácios, que eram muito semelhantes aos que já existiam em Roma, e os nobres que encontramos em Bizâncio serão os futuros senhores Feudais da Europa da Idade Média, o processo de mudança se deu de forma mais definitiva em 410 d. C., quando Roma foi saqueada pelos Godos de Alaricos, e deixou de ser uma cidade segura.

A Arte Bizantina irá se converter em escola de Artes Plásticas durante toda a Idade Média, influenciando os mais diversos ramos de manifestações culturais na arquitetura, na pintura, no mosaico, na escultura, nas iluminuras de livros e ourivesaria. Muitas vezes os artistas vão buscar na arte bizantina inspiração para criar novas pinturas, decorativas ou doutrinárias em praticamente toda a Europa Medieval, o fato que mais contribuiu para a disseminação da Arte Bizantina foram as iluminuras feitas em livros e bíblias, que podiam ser carregadas facilmente para todo canto do Velho Mundo.

A Igreja Metropolitana de Santa Sofia de Constantinopla é considerada uma das primeiras catedrais cristãs, e conserva a simplicidade exterior das primitivas igrejas, sabemos que no interior dessa igreja era decorado com mosaicos, de um rico colorido, e que outras igrejas, construídas na mesma cidade seguiam o modelo da principal igreja da cidade, mas com a invasão e o domínio do império Turco, e principalmente pelos saques que a cidade sofreu durante as cruzadas, os mosaicos e pinturas que existiam no interior dos templos foram destruídos, e pouco chegou aos nossos dias, no entanto ainda podemos ter uma ideia do quanto a arte dos mosaicos e das pinturas foram ricos e o quanto elas influenciaram a pintura em outros locais da Europa.

A Cidade de Ravena na Itália, se converteu no século VI, em uma cidade imperial, e por muito tempo teve um aspecto cultural, que podemos analisar como se Ravena fosse um bairro da cidade de Constantinopla, pois ela guarda no interior de algumas igrejas mosaicos que tem relação direta com a cidade de Constantinopla, alguns especialistas acreditam que parte de determinados mosaicos foram produzidos em Constantinopla e transferidos para ser anexados nas paredes das igrejas de Ravena. O interior da Igreja de Santo Apolinário o Novo Testemunha, consagrada em 549 d. C., guarda um extraordinário mosaico de transição do paleocristão para o bizantino. Os Mosaicos retratam dois cortejos principais, um de Santos, colocados um ao lado do outro, com auréola, e na parede oposta um cortejo de Santas também com auréolas, os dois dialogam entre si pela disposição das figuras, pela cor e pelos palmeiras que separam um personagem do outro, mas se destacam três figuras em especial: Na parede onde encontramos o cortejo das Santas, que são guiadas pelos três reis magos, onde fica claro que não foi feito pelo mesmo artista, pois os três reis magos são de cor mais viva, de vestimenta mais ricas em detalhes, os personagens parecem flutuar sobre um chão coberto por uma grama verde onde crescem flores de diferentes espécies, as palmeiras são diferentes dos que separam as Santas.

IGREJA DE SÃO VITAL DE RAVENA (ITÁLIA).

PAINEL RETRATANDO O IMPERADOR JUSTINIANO, BISPOS, DIGNATÁRIOS E DOLDADOS. (SÉCULO VI d. C.)

ORIGEM: http://www.aersonline.de/

Outro bom exemplo é a Igreja de São Vital de Ravena, construída e decorada entre 526 e 547 d.C. Nela podemos encontrar mais um rico exemplo de mosaico de influência bizantina, com um rico colorido e belas representações da vida de Cristo e o famoso mosaico que representa as figuras da Corte de Justiniano, considerada uma obra prima do mosaico de retrato, com uma riqueza no detalhe e no colorido das vestimentas dos retratados. Nos mosaicos das igrejas de Ravena podemos encontrar os mesmos elementos de diálogo com a pintura Naïf contemporânea, tais como a atenção dada ao detalhe, o colorido das obras, o olhar ingênuo de  alguns personagens, a retratação simples da vida de Cristo e seus apóstolos, a utilização da escrita e a vitalidade dos personagens.

A Crônica de Santa Sofia é um manuscrito que retrata a construção da Igreja de Santa Sofia, não temos muita informação sobre a data de execução da iluminura, sabemos que ela é posterior à construção da igreja, e retrata Justiniano dando orientação a um de seus arquitetos, que está sobre uma escada subindo rumo a uma das torres, o nobre é de tamanho maior que o arquiteto, para passar uma imagem de que ele é mais importante que o arquiteto, o colorido dos personagens, a atenção dada à roupa de Justiniano, a simplicidade na composição da obra, e o contorno são pontos que dialogam com a pintura Naïf contemporânea. A obra em questão está na Biblioteca do Vaticano.

 

SEGUNDO PERÍODO DA ARTE BIZANTINA – EXPANSÃO A ARTE PELA EUROPA (SÉCULO VI AO XIII d.C.)

 

Por 800 anos a cidade de Constantinopla simbolizou para o mundo antigo como uma enorme metrópole, com prédios, igrejas e um palácio Imperial magnífico, todos decorados com os mais ricos adornos, de mármores raros, feitos pelos melhores artistas, arquitetos e mestres nas mais variadas artes. São muitos períodos, que não poderiam ficar de fora de uma pesquisa de arte, pois a arte cristã produzida em Constantinopla encontrou seu próprio caminho, com suas cores e seus recursos, que irá influenciar a pintura, num período posterior, nas mais diversas regiões da Europa durante a Idade Média. Devemos ao período de vida da antiga Civilização Bizantina, na atual cidade de Istambul, importantes desenvolvimentos nas áreas das artes plásticas, no planejamento da planta urbana, e principalmente da arquitetura, na qual terá significativa influência nas construções das igrejas na Grécia, na Sicília e nos mais distantes territórios da Rússia, como o Estado Geórgia, onde encontramos as mais antigas igrejas do mundo ainda de pé.

Eu como artista e escritor estou colocando os mosaicos e pinturas do período Bizantino junto com a arte Naïf, por encontrar neles vários elementos de diálogo com a produção de arte Naïf contemporânea, é claro que para os especialistas em história da arte são coisas totalmente diferentes, mas como artista eu encontro um elo das duas artes, por caminharem no desenvolvimento de alternativas próprias, na valorização de elementos coloridos, na composição de personagens sem sombra, no contorno do mesmos, e no olhar ingênuo dos retratados, que no geral, são membros da corte Imperial ou Apóstolos e Cristo; de maneira que tornaram a produção de mosaicos num dos mais famosos períodos da história da arte, pela sua riqueza cromática e seu desenvolvimento artístico.

Sabemos que o Mosaico de origem bizantina irá influenciar movimentos artísticos mais próximos da nossa história da arte contemporânea, como o Pontilhismo de artistas como George Seurat e Paul Signac, artistas que viveram, produziram e fizeram exposições na virada do século XIX para o XX, conhecida como um período de renovação da arte ocidental, no mesmo período de surgimento do termo arte Naïf. Em algumas exposições as artes vão se encontrar, e posteriormente se juntar, como na atual produção de artistas como, por exemplo, Nerival Rodrigues, Deivid Daniel e Robson Barros.

Infelizmente pouco do que foi produzido chegou aos dias de hoje, pois a riqueza de Constantinopla despertava a cobiça de muitos povos vizinhos, o que causou inúmeros ataques e saques. Destruindo assim boa parte de tudo que foi produzido pelo Império Bizantino.

A proibição de imagens pelos imperadores Iconoclastas é um outro fato que destruiu várias obras de arte, perseguiu e matou vários artistas, que vamos falar nesse capítulo e para finalizar a invasão turca transformou algumas igrejas em Mesquitas, onde são proibidas imagens de pessoas e animais, o que destruiu o pouco que tinha sobrado.

O período que estamos analisando é muito fértil, havia grande produção de arte, que seguiam a risca as regras de pintura feitas pelos monges, e em especial alguns livros classificam esse período como o mais importante da produção Bizantina. Mais que a arquitetura, a verdadeira arte nacional bizantina foi a pintura. Assim como, na antiguidade clássica, grega e romana, os grandes templos de mármore foram ornados de relevos e esculturas, também as paredes e cúpulas de tijolos das igrejas grego-cristãs da Idade Média eram decoradas por revestimentos de mosaicos coloridos ou quando não se podiam utilizar estes dispendiosos processos eram utilizadas as pinturas afresco e painéis de madeira com base de gesso.

No caso das composições religiosas, os pintores dispunham de repertórios baseado em orientações dadas pelos monges, onde se lhes indicava o lugar que devia ocupar cada personagem dentro da igreja. Com base nessa orientação, podemos ver com precisão o modo como deviam ser representadas as cenas do Antigo Testamento, as Doze Festas Maiores, os Concílios, ou passagens da vida dos santos, por isso a série de tipos bizantinos parece que devia ser do gênero mais fixo e matemático da história da arte, porque não era só de orientação litúrgica a composição de cada cena, mas também lhe era marcado o lugar que devia ocupar no conjunto decorativo da igreja. Assim por exemplo, na abside costumava a se encontrar a figura gigantesca do Pantocrador, ou Todo Poderoso, abençoando e tendo numa das mãos o livro onde estavam as palavras do Senhor: Eu Sou a Luz do Mundo. Esta Figura, por vezes é substituída pela virgem sentada no trono com o menino nos braços, aliás, figura que será muito popular num período mais posterior, no renascimento Italiano. De cada lado da nave se sucediam cenas do Antigo e do Novo Testamento, numa certa ordem, de modo a facilitar o ensino do seu conteúdo aos fiéis.

A parede interna da fachada era o lugar mais indicado para as cenas do Juízo Final e nas laterais as naves menores seguiam as filas de Santos e profetas da igreja grega. A regra estava feita, mas cada artista trabalhava com os materiais que dispunha e com os recursos que os monges reuniam para a execução dos trabalhos de pintura e mosaico. Os resultados eram maravilhosos e outras igrejas na Itália, na Espanha banhada pelo Mar Mediterrâneo e nos países do Leste Europeu seguiam o mesmo modelo decorativo das igrejas bizantinas, porém com menos recurso e mão de obra qualificada, até que no ano de 753 d.C. um concílio reunido em Heieria decidiu condenar os defensores do culto de imagens. Muitos monges e artistas foram condenados à morte e morreram como mártires, entre os que foram condenados encontramos São João Damasceno.

Em 787 d.C., sob o reinado de Constantino VI, o Concílio II de Nicéia condenou a Iconoclastia os defensores de imagens. O resultado foi que muitos monges e artistas buscaram exílio em países vizinhos, na Espanha, na Itália, no Leste Europeu e na Rússia, levando para esses lugares influência da arte Bizantina. Na Geórgia encontramos em muitas igrejas até hoje a pintura sobre madeira de origem Bizantina com a base em dourado, onde os Santos e Cristo são apresentados com auréola de cruz e túnica colorida, um recurso muito utilizado pelos artistas pintores das Igrejas bizantinas.

PINTURAS NAS PAREDES DAS 52 IGREJAS DE GÖREMA REGIÃO DA CAPADÓCIA

ORIGEM: http://www.turismogrecia.info/guias/turquia/museu-a-ceu-aberto-de-goreme-capadocia

Com a proibição das imagens a decoração das igrejas retornam ao modelo ainda primitivo. Um bom exemplo de como as igrejas eram decoradas no período da iconoclastia são igrejas feitas pelos monges eremitas da região da Capadócia, que construíram em Görema 52 igrejas, que ficam abaixo da superfície. O Terreno árido e rochoso oculta as maravilhosas obras de arte que encontramos dentro dela. Essas igrejas são pseudocúpulas esculpidas na rocha; apenas aparecem aos olhos do visitante alguns buracos enormes na encosta rochosa. As mais antigas são do século VIII, época do domínio dos imperadores Iconoclastas, motivo pelo qual a decoração interna das paredes e colunas de rocha retornam ao período de pintura mais primitivo, apenas com o símbolo da cruz e de variadas formas geométricas.

A iconoclastia não durou muito tempo e logo os artistas voltaram a produzir as imagens de cunho religioso e de retrato, mas agora com novas técnicas e suportes, algumas obras produzidas nesse período chegaram aos nossos dias e conseguem dialogar magicamente com a pintura Naïf, tanto pela cor, pela construção ainda primitiva, sem profundidade e pela ingenuidade no olhar dos retratados, é o caso da iluminura que ilustra a Teríaca de Nicandro de Cólofon, do século X (Biblioteca Nacional de París), um dos pouquíssimos manuscritos profanos que chegaram até nós, onde trata dos vários processos de cura das mordeduras de serpente. A iluminura mostra um homem com vestimentas da época, andando numa floresta com várias árvores, na mão carrega uma bengala, é um desenho ainda primitivo, as folhas das árvores foram pintadas uma de cada vez, o personagem não tem sombra e a paisagem não tem profundidade. Outros bons exemplos de pintura desse período são as Orações de Sant’Ana e a de Isaías, são duas miniaturas do século IX, do Saltério grego nº139, da Biblioteca Nacional de París. Um Grande volume de 449 folhas, escritas em caráter minúsculos, contém somente 14 iluminuras, coloridíssimas contendo até uma moldura. Em cada iluminura, uma decoração diferente, tornando cada uma delas uma obra de arte independente a ser interpretada. As obras Homilias de São Gregório Naziazeno, que estão na mesma biblioteca, tem uma iluminura que descreve três milagres da vida de Jesus e o manuscrito é datado do século X.

A Biblioteca do Vaticano também conserva em seu acervo iluminuras importantes como a miniatura do Menológio de Basílio II, do século X, onde mostra a Virgem Hermíone, que é representada milagrosamente flutuando no espaço e do mesmo conjunto de manuscrito as cenas à esquerda, onde Moisés é salvo das águas pela filha do Faraó, e a direita está sendo assistido pelo arcanjo São Miguel. As obras foram pintadas num fundo amarelo e são coloridas, mostrando recursos alternativos disponíveis na época pelo artista.

OCTATEUCO DO SÉCULO XII d. C., QUE SE CONSERVA NO Topkapi Saray

ORIGEM: http://estudosdaimagem.blogspot.com.br/

A miniatura do Octateuco do século XII, que se conserva no Topkapi Saray, de Constantinopla, descreve em três séries as tentações de Adão e Eva, por uma serpente, apresentada como quadrúpede. O Satério Palatino do século XIII e as Homiliadas do Monge Tiago, Ambas na Biblioteca do Vaticano, São outros bons exemplos de pintura antiga, feitas com poucas referencias anteriores, com a alternativa do colorido na hora de narrar o tema abordado. Voltando a liberdade de se criar obras de arte com imagens os artistas vão produzir, sob novas regras, mais amplas e em novos suportes como os esmaltes Bizantinos, técnica que alcançou um notável grau de perfeição no resultado final.

Poucas obras escaparam aos saques e invasões. Encontrei imagens de uma Pátena do século XII, um Cálice do século X, dois Medalhões do século XI, que dialogam com a pintura Naïf contemporânea pela vivacidade das cores das figuras de santos, profetas e anjos, onde encontramos também a utilização de escrita na obra de arte.

Na Biblioteca Degli Intronati, de Siena, encontramos um evangelho do século X, com um extraordinário conjunto de esmaltes bizantinos, que tem uma capa dourada, com 23 medalhões coloridos, retratando os santos e uma passagem da vida de Cristo. No tesouro de São Marcos em Veneza, encontramos outro evangelho do século X, é o Evangeliário de São Miguel, considerado como uma capa mais rica em recursos artísticos, e traz junto com a composição dos medalhões bizantinos, um conjunto de pedras preciosas, muito semelhante a capa do evangelho do século XI, que tem placas de esmalte cloisonné, que se encontra na Biblioteca Marciniana de Veneza. O diálogo entre os mais variados produtos da arte desse período se dá pelo rico cromatismo, e pela busca de suportes cada vez mais alternativos e ricos, destinados a um público que irá utilizar o resultado final por várias gerações.

A prova de que essas pinturas de medalhões coloridos dialogam com a pintura naïf contemporânea pode ser visto na produção do artista brasileiro Paulo Gilvan Duarte Bezerril, que produziu a obra Ordem, Fé e Progresso, feita em 1993, e participou da Bienal Brasileira de arte Naïf. Na obra podemos ver algo muito parecido com as técnicas bizantinas. Na visão geral da podemos ver um painel de Duratex, onde se destaca uma figura central de Santa, talvez a Virgem Maria, sobre um globo, inspirado no globo central da bandeira do Brasil, onde está escrito o título da obra. A imagem da santa é rodeada por 13 anjinhos e ela está numa figura oval, em torno vemos oito imagens de santos retratados dentro de círculos, assim como nas capas dos livros do período que estamos estudando.

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