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Comentários al Apocalipsis, escrito por um monge do século IX chamado Beato, do Mosteiro de Liébana

ORIGEM: http://fr.academic.ru/dic.nsf/frwiki/197808

A PINTURA NA REGIÃO DA ESPANHA  (VIRADA DO MILÊNIO – SÉCULO IX E X d. C.)

 

A Espanha do período medieval é marcada pelo sincretismo cultural, religioso e artístico. No período Visigótico restaram as igrejas de pedra, do Moçarabe na influencia na arquitetura, mas é nas iluminuras de forte influência bizantina que iremos encontrar um elo de ligação com a pintura Naïf contemporânea. As invasões, e guerras das cruzadas dividiam o velho mundo entre cristãos e mulçumanos; e no mundo dos Cristãos, eles guerreavam ainda entre si por domínio de terras.

A arte Moçarabe surge no período de domínio mulçumano em terras espanholas, e vem dos cristãos que produziam arte e viviam em cidades dominadas por monarcas mulçumanos, como na região de Anda Luz de Sevilha e na cidade de Toledo, onde encontramos construções de colunas separadas pelos arcos de ferradura. A arte Moçarabe, vem por tanto, antes do Estilo Arabesco, que é um estilo mais popular, é o resultado da evolução do arabesco, mais colorido e ornamentado com flores e desenhos geométricos, feitos sobre a parede ou com azulejos. O Moçarabe era mais simples, colorido, mas ainda sem figuras ou desenhos e sobreviveu posteriormente na arquitetura de algumas igrejas da região da Espanha.

Num primeiro momento de tolerância, vemos Mesquitas, Igrejas Católicas e Sinagogas dentro de uma mesma cidade, construídas e decoradas por elementos de várias origens. Mas no século X os numerosos Monges de Córdoba tiveram que migrar, perseguidos em consequência das suas atitudes antislâmicas. Refugiados nos reinos do Norte, construíram igrejas de um novo tipo, as que chamamos atualmente de Moçarabes.

No universo das artes iremos encontrar um especial interesse pela história das iluminuras Moçarabes, dentro da arte medieval, às quais se deve uma série de temas e tipos iconográficos que passam mais tarde para a pintura Românica. Essas iluminuras em que aparecem os arcos de Ferradura, já refletiam uma forte personalidade autônoma na Bíblia Hispalense, da primeira metade do século X. As obras primas desta arte são as ilustrações dos Comentários al Apocalipsis, escrito por um monge do século IX chamado Beato, do Mosteiro de Liébana, razão pela qual os manuscritos que formam este prodigioso conjunto são conhecidos pelo nome  do autor do texto.

As iluminuras do Comentário al  Apocalipsis, parecem ter sido inspirados em iluminuras bizantinas e visigóticas, e a obra do Beato será muito copiada, pois trazem em si o temeroso pensamento do fim do mundo, com a imagem de demônios e anjos, algo muito comentado na época, pois iria acontecer a virada do milênio, e a arte refletia o pensamento coletivo da Europa.

O colorido dos personagens de olhos arregalados, as cenas do cotidiano, como o trabalho no campo, a simplicidade na execução da anatomia humana, a utilização da escrita e a musicalidade são características que aproximam as iluminuras das pinturas Naïfs contemporâneas, em especial com a obra de  Marcos de Oliveira, principalmente pela “deformidade” das mãos dos personagens e pela utilização de um colorido vivo e contrastante.

O Beato de Liébana compilou variadas citações de dois padres africanos, Primário e Ticônio, e outras de um visigodo, Apolinário de Beja, que tinha feito comentários ao Apocalipse nos séculos V e VI. Com essa antologia tão pouco original, o Beato propunha lutar contra a heresia do adocianismo, pregada por Elipando, Bispo de Toledo, um Moçárabe ilustre. Este livro teve um grande êxito no século X; dele se fizeram numerosas cópias, quase todas com muitas ilustrações  dos vinte e sete manuscritos que ainda hoje existem, apenas três não tem iluminuras. Ao que parece todas as ilustrações provem de um modelo único. Um só artista criou estas extraordinárias composições fantásticas, segundo uma tradição e o estilo visigótico do Pentateuco Ashburnham. O manuscrito mais antigo é do ano de 926 d. C., tem grande número de iluminuras e é de boa qualidade, está assinado por Mágio, e se encontra atualmente na Morgan Library, de Nova York. Este mesmo Mágio conheceu o Beato do Mosteiro de Távora, continuando depois de sua morte por um discípulo, Emérito, com figuras de um colorido espantoso e de uma grande força expressiva. Emérito e uma pintora chamada Eude, ou Ende, assinarão no ano de 965 d. C. o Beato da Catedral de Gerona. Esse é um dos mais famosos pela fantasia  transbordante das grandes ilustrações, muitas enchem uma página inteira ou mesmo duas, e pelo expressionismo das figuras, juntamente com uma gama quente de cores: Vermelho, laranja, verde brilhante e amarelo limão.

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