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13ª Bienal Naïfs do Brasil - 2016

A polêmica Bienal naïfs do Brasil, que tem como tema " Todo mundo é, ecxeto quem não é", tem atraído público e sendo criticada, positivamente e negativamente.

Divulgação oficial da 13ª Bienal Naïfs do Brasil - 2016, promovida pelo SESC Piracicaba. 

Campanha virtual Naïf não é Rótulo, é Luta e Conquista - artistas naïfs do Brasil - 2016

Uma frase para colocar ainda mais lenha na fogueira da polêmica 13ª Bienal Naïfs do Brasil, promovida pelo SESC Piracicaba em 2016, que coloca no centro da questão a definção do que vem a ser a arte naïf no contexto comtemporâneo e sobre o artista naïf na atualidade. No vídeo uma das juradas compara o naïf a um rótulo, gerando protestos por parte de alguns artistas naïfs que lutam para dar visibilidade ao artista e a arte naïf, assim começou a campanha - Naïf não é Rótulo, é Luta e Conquista, compartilhado pelas redes sociais virtuais, com apoio de artistas e público.

Trechos do depoimento de Enzo Ferrara a respeito da 13ª Bienal Naïfs do Brasil 2016.

Depoimento dado logo após o discurso de abertura na unidade do SESC Piracicaba. 

Bienal do Como Assim?


Discurso no debate após a abertura da Bienal Naïfs do Brasil 2016

Por Enzo Ferrara

Respondendo uma pergunta anterior feita aos jurados/Curadora sobre expor obras contemporâneas num espaço, tradicionalmente dedicado a arte naïf.
- A Curadoria/ e corpo de jurados foram duramente criticados pelos artistas naïfs e apoiadores (Galeristas, pesquisadores, artistas populares....), por colocarem menos obras naïfs e ocupando um espaço, que é o único no Brasil a receber a produção de arte Naïf nacional, quando em outros salões e bienais negam o nosso trabalho, por ser exatamente naïf. Transformando essa edição da Bienal em Bienal do Como Assim? – Fulano de tal não foi selecionado, mesmo sendo artista naïf, e obra contemporânea está participando? Sim foi isso que aconteceu.


Em primeiro lugar agradecer ao Antonio Do Nascimento e reconhecer a importância da iniciativa dele ao levar a ideia do projeto de Exposição de Arte Naïf (1986), para o SESC Piracicaba, iniciativa que acabou transformando a exposição de cores caipiras e rurais em Bienal que é hoje. Temos sempre que ser gratos a ele, que não estava presente, e isso quer dizer algo.


Parabenizar os artistas, e dizer que todas as obras são legítimas, apesar da forma como a bienal foi concebida, eles são merecedores de todo meu respeito. Tem coisa que eu gostei, outras nem tanto, mas isso é normal, é uma visão minha, que não diminui o valor artístico das produções.


Em resposta a provocação feita pela curadora ao propor o Título: “Todo mundo é, exceto quem não é” – se referindo a uma frase que diz, no Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é.
Resposta a essa reflexão: - Todos somos iguais, mas quando nossa identidade cultural e nossa integridade física correm o risco de desaparecer, aí temos que dizer: sou diferente.
Quando um índio (quilombola, ciganos, morador da floresta, ribeirinho, morador das periferias das grandes cidades, artistas populares, artesãos...) corre o risco de perderem suas terras pelo fazendeiro, ou invasor, tem que reafirmar - sou índio e tenho meus direitos!


OBS: Tirei essa frase de um dos meus livros de estudo da matéria Homem e Sociedade: - “As pessoas têm direito a serem iguais sempre que a diferença as tornar inferiores; contudo, têm também direito a serem diferentes sempre que a igualdade colocar em risco suas identidades.”


Algumas coisas foram boas, e devem ser elogiadas, como a classificação de artistas jovens, que nasceram na década de 1990, e agregaram valor cultural ao projeto da Bienal com suas produções, também houve uma aceitação de materiais novos, algo que já foi pedido na edição de 2012.


OBS: Sou a favor de colocar novas produções, mas só quando isso parte do próprio artista Naïf, que já tem toda uma vivência, uma carreira construída com base na produção de arte Naïf, e não por uma imposição da instituição e curadoria, como foi nesse caso.


Naïf não é rótulo, é Luta, é conquista de espaço e reconhecimento! Pois foi falado na abertura do evento que queriam tirar esse rótulo (Naïf) da arte que eles estavam considerando tudo uma coisa só. 
Tivemos que nos impor como artistas que somos, primeiro com Henri Rosseau, ao ser colocado nas salas mais distantes do Salão dos Recusados, por receber duras críticas do público, sendo excluído também entre os recusados. Só na década de 1920, com o trabalho de Wilhelm Uhde, é que os jornais passaram a utilizar esse termo para se referir a nossa arte naïf que produzimos até hoje.
Pode parecer um termo Eurocentrista, mas não, no Brasil tivemos a mesma luta, pois aqui a arte naïf já era produzida em coisas como as pinturas e esculturas votivas. Com o Movimento Modernista, iniciado na década de 1920, essa produção tiveram seu valor cultural reconhecido pelos artistas da época. Nas décadas de 1940 e 1950 foi a vez de Heitor dos Prazeres e Chico da Silva abrirem caminho nas galerias e participando das primeiras Bienais Internacionais de São Paulo.
Nas décadas de 1960 e 1970, foi a vez do Salão de Arte Contemporânea de Salvador na Bahia e o famoso movimento de Arte Naïf na Praça da República de São Paulo, movimento que abriu caminho para as exposições de Maria Auxiliadora no Consulado dos Estados Unidos em São Paulo e a incorporação de sua obra no MASP. Isso fez com que as Galerias de São Paulo abrissem suas portas para os artistas naïfs. E o Movimento de Arte Naïf da Praça da República foi levando para Embu das Artes, quando os artistas que atuavam na Praça foram convidados para visitar o movimento de Teatro Negro liderado por Solano Trindade (Pai da artista Naïf Raquel Trindade – Acambinda), para lá foram artistas como Maria Auxiliadora e Ivonaldo.
No mesmo período surge o maior nome da arte Naïf nacional Waldomiro de Deus que revolucionou o mundo das artes com sua pintura contestadora e fora do comum.
Nas três últimas décadas do século XX surgem as grandes instituições como o MIAN (Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil – Rio de Janeiro), Museu do Sol – Penápolis – SP e a Bienal de Arte Naïf promovida pelo SESC Piracicaba,
Tudo isso foi feito através de luta dos artistas e reconhecimento das instituições.


Minha enorme decepção foi ver a forma como a questão foi conduzida, ao planejar a Bienal Naïfs do Brasil de 2016, excluindo os artistas que ajudaram a construir o que a Bienal é hoje. Sim, pois o SESC não construiu a Bienal sozinho, nós artistas naïfs também investimos tempo e dinheiro para produzir e enviar as obras para cada bienal, e também investimos ao vestir a camisa do projeto da Bienal, algo que nenhum dinheiro do mundo paga.
Minha decepção com os jurados, curadora e instituição foi enorme, eu esperava mais deles, esperava que eles fizessem uma homenagem a esses artistas, que talvez eu tenha valorizado mais do que a própria instituição, mas eu sou só um pobre e simples artista naïf do interior de São Paulo, não consigo carregar essa responsabilidade sozinho.
Ao escolher esse aventureiro caminho de construir uma Bienal de Naïfs sem dialogar com aqueles que realmente produzem arte Naïf, eles apagaram todo um passado de lutas e conquistas, se hoje eu sou um artista naïf de Sucesso é graças aos primeiros passos dados pelos artistas naïfs que vieram antes de mim e aos primeiros passos do Antônio Nascimento, não poderia seguir de cabeça erguida compactuando com o que ocorreu nessa edição.


A instituição valoriza muito o especialista, o formado na faculdade, e essa é a maior contradição, pois não existe doutorado, mestrado ou curso superior de arte Naïf, eu sei disso, pois agora eu estou lá, e vejo os desafios da educação em artes visuais no Brasil, é algo novo, que estamos num constante processo de construção.


O depoimento que mais me comoveu foi a do artista naïf Henry Vitor Santos, ao dizer que foi recusado nessa edição, que achava estranho, pois já tinha sido premiado com o aquisição, e sua obra fazia parte do acervo do SESC. Viraram as costas para esses artistas, e eu não consigo mais apoiar o projeto Bienal Naïfs do SESC.
Ao ver esse depoimento eu quase fui ao SESC e retirei a minha obra da inscrição, fiquei com a carta avisando que a obra foi selecionada, por volta de uma semana, até receber o recado de muitos artistas que não foram selecionados, me pedindo para ir e representa-los, e foi o que eu fiz. 


Tendo como base que essa edição da Bienal virou as costas para os verdadeiros artistas naïfs do Brasil, não vejo outra forma se não a de também virar as costas para a Bienal Naïfs de 2018, se é que ela vai ocorrer, pois passam uma imagem de que eles não querem mais que ocorra a bienal.


OBS: A representante do SESC afirmou que o SESC irá dar continuidade em 2018 ao projeto da Bienal.


Foi dito no dia da abertura, dia anterior, que eles não estão lá para agradar crítica ou aos artistas, mas sim para cumprir sua função, que é a de expor.
Novidade! Sempre ficamos de escanteio, não seria diferente dessa vez. Na boa, se for só expor, então eu prefiro expor de forma virtual ou em local mais próximo, pois se for assim, expor por expor, tem formas mais em conta e menos trabalhosa de mostrar nosso trabalho. Note que os prêmios foram diluídos e ficaram em segundo plano, ninguém falou deles.
Mas sou eu, o artista naïf, que invisto do meu bolso para produzir as obras, e quando é para participar efetivamente, sou deixado de fora.
Nessa edição houve um retrocesso para a Bienal de 2012, quando tentaram nos empurrar garganta abaixo arte contemporânea na bienal de Naïfs.
Tento entrar com as minhas obras em Salões de Arte Contemporânea, como por exemplo o de Santo André, e nunca consegui, pois meu trabalho é naïf.
Quando se fala de arte Naïf, eles colocam os jurados e curadores, com seus diplomas e sua cultura erudita no palco, alto, como se fossem melhores do que nós. E o artista naïf na plateia, como menores, ignorantes do assunto, porém quem produziu as obras fomos nós, naïfs. – Somos sempre segregados, a inclusão e igualdade que somos todos artistas fica só da boca pra fora, só pra inglês vê.


Com tudo isso eu fiz a mesma pergunta que tinha feito em 2012 – O que na visão deles essa bienal irá contribuir para a próxima, o que deixará de legado?


Mas as repostas são apenas perspectivas, não concretas, foram dadas desculpas, foi falado que eu entro em contradição, ao querer ser incluído como contemporâneo, mas recusar aceitar arte contemporânea na bienal.
Obs: exatamente por que o inverso não ocorre!
Os artistas contemporâneos saíram na defensiva, que eles gostaram da ideia, que o mercado de arte contemporânea não dá espaço pra eles, que tem que existir uma renovação para não serem expostos os mesmos artistas em todas as edições.


Para o meu trabalho, esse caminho proposto pela curadoria da Bienal Naïfs 2016 não serve. No meu caso a Bienal naïfs do Brasil acabou em 2016.
Obs: natural que saiam na defensiva, pois eles “invadiram” um espaço, ou evento que não era destinado exatamente para eles.


Vejo duas alternativas, primeiro devemos nos manifestar contra o que está ocorrendo, enviando uma carta, e-mail para o SESC nos posicionando a respeito dessa exclusão dos artistas;

A segunda é que temos que criar um evento fora da instituição, que seja paralelo, pois se caso a Bienal deixar de ser naïf vamos ter uma outra alternativa, e mais sincera, e menos deficiente (no sentido que falta algo). 


O lamentável é ter pintado uma obra em homenagem aos 30 anos da Bienal Naïfs do Brasil, homenageando a cidade de Piracicaba e a artista Carméla Pereira, que não fez inscrição, eu a procurei na abertura, e ela me disse que falaram que ela não poderia participar, pois já tinha participado de quase todas, ou seja, a artista que para mim é referência da arte Naïf de Piracicaba foi excluída da bienal promovida na própria cidade, é uma vergonha!

Foram muitos os artistas que comentaram esse texto no perfil do Enzo Ferrara no Face, e desse debate surgiram propostas. uma dessas reflexões merece destaque, é a da artista naïf Shila Joaquim, postada no site da artisa:

https://cordelumbilical.wordpress.com/2016/08/27/algumas-reflexoes-de-uma-artista-popular-sobre-o-assunto-bienal-naifs-2016/

Podemos concluir desse debate que é necessário criar novos eventos que reunam os artistas naïfs nacionais, que é necessária a união e organização para superar as dificuldades que todos enfrentam para promover seus trabalhos, e sugestões foram feitas, como o reconhecimento da arte naïf nacional pelo IPHAM ( Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), porém isso só pode ser realizado através de organização, ou seja, uma associação em defesa dessa produção cultural tão brasileira.

Em  breve postarei uma análise das obras da bienal como leitor de imagem, serei mais flexivel e elogiarei algumas produções, mesmo sendo contemporâneas, pois os artistas participantes não tem culpa da forma como a questão foi tratada.

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