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Afresco Saint – Sur – Guartempe (Vienne).

ORIGEM: https://www.pinterest.com/biennalebrioude/coll9-fabuleux-bestiaire/

A PRODUÇÃO DE ARTE NO PERÍODO PRÉ-ROMÂNIOCO E ROMÂNICO (SÉCULOS IX AO XII d.C.)

 

Designamos por Românico o novo estilo artístico da Europa Cristã Latina e Germânica nos séculos XI e XII, que vem logo após o períodos Carolígio e Otoniano e imediatamente anterior ao período Gótico, do qual seria contemporâneo na sua última fase. Em algumas regiões ainda se prolongaria , como em Portugal, pelo século XIII e além. A origem mais provável é o território francês. Pela primeira vez na Idade Média surge uma unidade de estilo na Europa Ocidental. Tomará aspectos particulares variados, mas as diferenças locais não impedirão que as características profundas se mantenham idênticas, terá profunda influência na arquitetura, com novas soluções para vários problemas técnicos, como a construção de abóbodas de pedra, que vieram substituir os trapejamentos de madeira. Uma nova decoração arquitetônica cujos elementos plásticos se inspiram na tradição clássica e paleocristã romana, na arte dos bárbaros e Bizâncio, ou no Oriente Sassânia e Islâmico, se propagando pelas igrejas, desde as fachadas até às cabeceiras.

Toda a pintura medieval pode ser considerada uma pintura Naïf das mais primitivas, se enganam aqueles que acreditam que durante o período da era das trevas, ou Idade Média com as terríveis Cruzadas, não se produzia arte, pois não é o que vemos, durante todo o período, foram construídas igrejas e produziram livros com ricas iluminuras. Claro que em cada período teve as suas particularidades e visão própria do mundo que rodeava a vida na Europa, em comum a vontade de criar uma arte única em sua identidade, com cores e formas próprias, quando um determinado país ou região produzia algo significativo, logo influenciava outros ao redor, que se comunicavam através do fluxo religioso, ou seja, membros da igreja que iam de um lugar para o outro, sem ser afetado diretamente pelos conflitos entre as cidades e regiões. Esses membros levavam com sigo livros e bíblias decoradas com iluminuras, que acabavam dando ideias de construções, ou ao contrário, as construções de uma determinada região eram retratadas nas iluminuras.

A Iluminura do Sacramentário de Losch (Museu Condé, Chantilly) e o Evangelho de Losch, ou Codex Aureus (cerca de 800), Biblioteca do Vaticano, tem figuras de evangelização, muito coloridas, de São João e a Crucificação de Cristo, tem várias características que já falamos anteriormente, como o contorno e a simplicidade compositiva, mas é no período da arte Românica Francesa que vamos encontrar o afresco Saint – Sur – Guartempe (Vienne).

Em 1845, Mérimée, “descobriu” atônito esta capela Sistina da pintura românica Francesa. As abóbodas e as paredes estão cobertas pelo mais importante conjunto de afrescos Românico Franceses, (que no geral abordam cenas da bíblia, velho testamento e passagens da paixão e morte de Cristo).

Afresco Saint – Sur – Guartempe Vienne - Detalhe da Arca de Noé. 

ORIGEM: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1a/Saint-Savin_Arche.jpg/440px-Saint-Savin_Arche.jpg

Uma imagem me chamou a atenção, ela é da escola de fundos claros, com um sentido que em alguns documentos pesquisados da década de 1970 eram chamados de moderno, pois dialogavam com a pintura Naïf produzida na época. Essa imagem é uma versão animada da Arca de Noé flutuando sobre as águas do dilúvio, onde flutua os corpos dos pecadores, e por incrível que pareça, encontrei o mesmo tema abordado pelo artista Cézar Campos Junior, que pintou a obra Os Caminhos para a Arca, para a Bienal Naïfs do Brasil de 1998, e as duas obras dialogam entre si não apenas pelo tema, mas pelo mesmo formato da arca, abordada pelo mesmo ponto de vista, e o mais incrível é que muito provavelmente o artista nunca tenha visto a pintura na parede da igreja Francesa.

Os Afrescos da cripta da Igreja de Notre – Dame de Montmorillon, em Gartempe, feita em princípios do século XIII, foram interpretados pelos especialistas como o Casamento de Santa Catarina, presidido pela virgem, que está ao centro da cena, envolvida pela mandorla bicolor, encontramos nas figuras o contorno típico da pintura Naïf, a ingenuidade no olhar dos personagens, um rico colorido e uma simplicidade na composição.

Tortura de São Lourenço, realizada cerca de 1109 d.C - Berzé – lá – Ville

ORIGEM:http://www.museudosol.art.br/Menu/lightbox/waldomiro

WALDOMIRO DE DEUS - BRUTALIDADE - (1986)

ACERVO PERMANENTE DO MUSEU DO SOL - PENÁPOLIS - SP

ORIGEM:http://www.museudosol.art.br/Menu/lightbox/waldomiro

Poucos quilômetros ao Sul de Cluny a Igreja de Berzé – lá – Ville, onde podemos encontrar afrescos feitos no período medieval, pois o interior dessa igreja é coberto de afrescos da escola de fundos azuis, que nasceu na grande Abadia de Cluny no fim do século XI. Berzé – lá – Ville estava totalmente pintada, mas atualmente apenas se conserva a decoração da Abside, realizada cerca de 1109 d.C. e ainda em perfeito estado. A cena da Tortura de São Lourenço, em alguns livros é nomeado como Tortura de São Vicente, que encontramos no interior desta igreja dialoga com duas obras de Waldomiro de Deus, uma tem como título Explosão do Osasco Plaza Shopping de 1996, e outra é Amarás o teu próximo como a ti mesmo de 1995, ambas trazem como principal mensagem a dor dos personagens, mostrando que a arte Naïf não transmite apenas ingenuidade, mas também outros estados de espírito, como a dor, o medo, a fome, a alegria e a fé. A riqueza do colorido, o contorno dos personagens, sobretudo a de São Lourenço, onde o contorno nos permite ter uma ideia dos músculos do santo, que está nu e sendo torturado por outros dois personagens em segundo plano.

Pala ilustrar essa ideia de dor e medo e compararmos as duas obras, selecionei a obra brutalidade, pintada por Waldomiro de Deus em 1986, atualmente no Museu do Sol em Penápolis – SP. O tema da obra é um perturbador estupro coletivo, onde uma mulher, que está amarrada é violentada por dois outros personagens.

Tapeçaria ou Guarnição Pariental de Bayeux, feita por volta do século XI (Museu de Bayeux)/ Obs: imagem cortada e editada uam sobre a outra - (obra original: 50 x 70 cm).

ORIGEM: http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/assets_c/2013/08/WilliamtheConquerorTrans-thumb-600x417-45235.jpg

A célebre Tapeçaria, ou Guarnição Pariental de Bayeux, feita por volta do século XI (Museu de Bayeux), que é na realidade, um bordado de lã sobre tela. Com 0,50m de Largura, tem mais de 70 m de comprimento, era exposta na nave da Catedral de Bayeux, na festa das relíquias.

A sua versão dos fatos (Viagem de Aroldo à Normandia e conquista da Inglaterra por Guilherme, O Conquistador, em 1066 d.C.) é sensivelmente diferente da dos historiadores. Vemos nessa obra o rei Eduardo, o confessor, e um soldado, os carpinteiros construindo as embarcações para a travessia do canal da Mancha, que separa a costa oeste da França do litoral da Inglaterra, e os arqueiros normandos combatendo na batalha de Hastindg (1060 d.C.).

A pesquisa indica que o mais provável é que a obra foi encomendada por Odon de Conteville, Bispo de Bayeux e irmão uterino de Guilherme. É notável que a composição da obra pode ser considerada uma expressão de arte Naïfs das mais primitivas, que vemos na simplicidade da composição, no contorno dos personagens, no colorido e na valorização da identidade local. Vamos ver a seguir a produção da pintura no mesmo período na Espanha e na Itália.

Detalhe da pintura no interior da Colégiada de San Isidoro de León.

ORIGEM: http://s259.photobucket.com/user/conquerde/media/Lugares/Espana/Leon/Isidoro.jpg.html

Detalhe da pintura no interior da Colégiada de San Isidoro de León.

ORIGEM: http://benaventearte.blogspot.com.br/2011/01/comentario-pinturas-de-san-isidoro-de.html

O mais importante momento da pintura românica na Espanha Ocidental é o Panteón da Colégiada de San Isidoro de León, cujas abóbodas foram decoradas com cenas de um vigor extraordinário. Sobre fundo branco, podemos observar, um colorido que varia do vermelho, cinza, azul e amarelo, o desenho dos personagens são contornados de preto, os olhos são ingênuos, muitos temas foram tirados da vida cotidiana da época, inclusive as vestimentas medievais, e os personagens variam de pastores, santos e animais. A pintura foi classificada em um dos livros de pesquisa como um dos maiores conjuntos monumentais de pintura decorativa românica peninsular, uma obra prima que marca o apogeu desta arte nos fins do século XII, que datam da época do rei Fernando II (1157 a 1188 d. C.).

Detalhe da pintura realizada na igreja de Santa María de Taüll

ORIGEM: http://www.fotoviajero.com/pt/search/Barcelona/david-e-golias_1467

É nos Pirineus Catalães que se encontra o mais importante núcleo de pintura mural românica de península. Tanto Santa Maria de Tahull como San Clemente de Tahull são obras de dois grandes mestres que pintavam sistematicamente as figuras, estilizavam os traços dos rostos até lhes darem um traçado caligráfico, ou mesmo parecendo figuras de cordel coloridas, dentro de um realismo vivo em cores de excelente qualidade. Estes murais foram integralmente transportados para o museu de arte de Cataluña (Barcelona).

A talha em madeira também faz parte da produção artística do período românico é na obra Majestat Batló é talvez o mais representativo de uma série de crucifixos de talha policromada em Cristo, vestido com uma túnica talar de motivos ornamentais, e foi feita com o aspecto que parece triunfar sobre a dor da tortura de estar crucificado e da morte, a obra se parece com os ex-votos que encontramos nas igrejas de peregrinação no Brasil e em toda a América Latina. Majestat Battó é uma catalonização de Rex tremendae majestats. Esta peça de 1,53 m por 1,19 m se caracteriza pela pacifica serenidade do rosto, pelo colorido com forte presença do azul e do vermelho e pelos olhos arregalados e ingênuos, diante da morte eminente. Ele está no Museu de Arte de Cataluña, Barcelona.

Outras duas obras importantes são os frontais de madeira pintados sobre estuque, o que permitiu que durassem a ponto de chegar aos nossos dias, são característicos do românico catalão e parecem feitos à madeira policromada de esmaltes. Podemos citar o Frontal da Catedral de Urgel, que apresenta os apóstolos dos dois lados do Pantocrador dentro de uma dupla auréola. A obra é de um colorido vivo com forte presença das cores quentes e do azul, o olhar ingênuo dos apóstolos a fitar o todo poderoso é um traço marcante na obra. O Frontal de Aviá emoldura a virgem num arco trilombado, com dois anjos, um de cada lado. Nos lados descreve as cenas do ancião, natividade e apresentação, com uma perceptível influencia bizantina, ambos estão no Museu de Arte de Cataluña, Barcelona. Nas duas obras da San Clemente de Tahull e Frontal da Catedral de Urgel os dois cristos dialogam entre si pela mesma posição que ocupam, e tem um diálogo, não apenas com a arte Naïf, mas também com a estamparia japonesa, tanto pela valorização dada ao manto, ao colorido e ao contorno.

Bíblia de San Pedro de Roda - Noailles

ORIGEM: http://www.artehistoria.com/v2/obras/9394.htm

A iluminura não poderia ficar de fora da produção espanhola, vamos citar dois exemplares: A Bíblia de San Pedro de Roda e O livro dos testamentos (século XI d.c.) revela uma escola catalã original de códices iluminados, muito representativa. Também é conhecida como Noailles, nome do marechal francês que ocupou a Cataluña no século XVII e a levou para França, onde hoje está na Biblioteca de Paris. Está pintado de aquarela o que lhe confere uma leveza que contrasta ostensivamente com a maioria das iluminuras da época, que pela nitidez do traço e da cor, mais parecem gravadas, ou mesmo impressas como xilogravuras. Uma das imagens da bíblia, narrando uma conversa de quatro personagens dialoga com a obra Promessa Para Chover, feita em 1998, pelo artista Naïf Américo Modanez, dialogam entre si pela disposição dos personagens, pelo motivo religioso.

O Livro dos testamentos (cerca de 1125 d.c.) Também chamado de livro Gótico, é o códice diplomático mais antigo do ocidente. Contém copias de documentos de doação e privilégios outorgado a Catedral de Oviedo entre os séculos IX e XII d. C. Tudo nele se transforma em ornamentação, até a escrita de ouro e prata ou as ousadas tintas vermelhas, verdes e roxas. Tudo é idealizado com uma fantasia transbordante. Destaque para a página que representa o rei Ordoño no ato da entrega do testamento (Catedral de Oviedo).

 El Tapiz de la Creación, ou Tapete da criação

ORIGEM: http://latelaescrita.blogspot.com.br/2012/11/el-tapiz-de-la-creacion.html

A tapeçaria tem um espaço importante, a peça conhecida como El Tapiz de la Creación, ou tapete da criação, que está na Catedral de Gerona, é de fato uma extraordinária obra de arte de grandes dimensões, tinha originalmente 5m de comprimento, e foi realizada nas primeiras décadas do século XII, ao Centro, como é de costume encontramos a imagem do Pantocrador. As diversas fases da criação foram inspiradas nas formas Genesis de Viena, com um sabor arcaico ou primitivo que lhe confere esse ar ingênuo tão do gosto da nossa época. Destacamos a cena da criação dos animais que povoam o céu e o mar é particularmente sugestivo pela delicadeza das cores e pela mistura da observação realista e de imaginação fantástica.

Porta  di  San Ranieri ou Porta da Catedral de Pisa

 

Na Itália vamos citar a Porta Ranieri da Catedral de Pisa, obra de Bonannus. As cenas da matança dos inocentes, o batismo de cristo, a natividade, a comitiva dos reis magos e a expulsão de Adão e Eva do paraíso terreno provam, para além da sua magnífica expressividade, que o trabalho do bronze havia alcançado na Itália do século XII d.C. uma grande evolução técnica e alta categoria artística.

Por último, não podemos deixar de abordar os magníficos trabalhos em bronze. Na produção de obras de arte em Bronze, já começavam a dar sinais de esgotamento da influencia bizantina e não tardou muito para que alguns bronzistas italianos começassem a executar trabalhos do mesmo gênero, ao passo que o hieradismo secular bizantino ia dando lugar a uma interpretação ainda mais ingênua da vida real.

Vemos a mesma influência da arte românica na pintura mural e nas iluminuras produzidas na Alemanha e na Inglaterra, até mesmo nos países mais ao norte receberam influencia da arte do sul, darei destaque para as iluminuras do livro de Perícopes de Henrique II e o Evangelho de Otão II, ambas iluminuras germânicas, que manifestam valores monumentais e são de um rico colorido.

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