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A ARTE NAÏF HOJE  - 2017

A arte Naïf deve ser compreendida antes de iniciarmos qualquer atividade de leitura de imagem das obras de qualquer artista naïf. Para escrever sobre essas considerações eu levei em conta todas as exposições, festivais e termos que foram sugeridos e superados. Mais adiante postarei aqui no site os critérios e considerações sobre o que é arte naïf e o que não é, pesquisados em vários livros.

O termo Naïf vem do idioma francês e significa ingênuo. O termo surgiu devido a crítica negativa relacionada a obra do artista francês Henri Rosseau durante a participação do mesmo nos Salões dos Recusados do movimento de vanguarda da pintura no período pós-impressionista dos artistas franceses.

Rosseau era considerado pelo público e crítica como um “Velho Ingênuo” que pinta como criança, devido o aspecto rústico de suas pinturas. A Pintura Naïf como termo foi utilizada com mais frequência e afirmação pelos jornais franceses durante a década de 1920, quando se popularizou a estética de pintura Naïf através da Exposição Artistas do Sagrado Coração, promovida pelo galerista e colecionador Judeu Alemão Wilhelm Uhde, que “descobriu” vários artistas pelo interior da França e pela Europa no pós 1ª Guerra Mundial, que seguiam o mesmo estilo de Henri Rosseau.

Existem várias definições, que de tempos em tempos são debatidas durantes eventos como a Bienal Naïfs do Brasil Promovida pelo SESC Piracicaba e em eventos internacionais como o Festival Internacional de Arte Naïf de Katowice na Polônia e pelas Exposições Internacionais do Museu Internacional de Arte Naïf de Magog no Canadá, porém a definição que melhor descreve a arte Naïf está em algumas características comuns em vários artistas:

A Pintura Naïf é a principal forma de produção da arte Naïf, sem que isso ou qualquer outra regra seja obrigatória, o artista Naïf é livre para criar e produzir sua arte independente de regras.

O artista Naïf geralmente é autodidata, ou tem pouco conhecimento técnico de pintura.

A retratação das manifestações da cultura popular são frequentes na produção de vários artistas naïfs pelo mundo. No Brasil as manifestações mais retratadas são os temas do Carnaval, futebol, circo, trabalhadores fazendo colheita nas plantações, festas juninas, casamentos, festa do Divino Espírito Santo, Cavalhadas, Folias de Reis, jogos indígenas, procissões, retratação de manifestações da religião Afro-brasileira como os orixás e entidades da Umbanda e Candomblé, Pescadores, brincadeiras infantis, feiras livres, congadas, Moçambique, greves, marchas de operários urbanos, ribeirinhos trabalhando na pesca e vendendo peixe, Manifestações da cultura nipo-brasileira como Taikô; Forró, Samba, Carimbó, capoeira, Samba de Pandeirão, Pifadas, Siriri, Rezadeiras, Bumba meu boi, Imagens sacras, Retirantes, pagadores de promessa, são alguns dos temas que se repetem na produção nacional.

Na Pintura Naïf ainda se ramificam em dois tipos de estética, uma pintura naïf mais Rústica, e outra mais detalhada, contornada que busca uma perfeição, parecendo “Cobertura de bolo”. Observe os dois exemplo abaixo:

Exemplo de Pintura Naïf de estética mais Rústica - Tânia de Maya Pedrosa, Festa Padroeira e Romaria de Padre Cicero, óleo sobre tela, 70 x 80 cm, 2000, Acervo do SESC São Paulo.

Exemplo de Pintura Naïf de estética mais detalhada – Neri Agenor de Andrade, Pescaria Noturna, acrílica sobre tela, 50 x 70 cm, 2005, Acervo do SESC São Paulo.

Na primeira tela podemos perceber que a artista Tânia de Maya Pedrosa trabalha de forma livre, ignorando a perspectiva e as proporções de anatomia dos personagens, criando novas possibilidades para resolver os problemas técnicos na hora de produzir sua pintura.

Na segunda tela podemos perceber que o artista Neri Agenor de Andrade tem uma pintura produzida com conhecimento técnico ao utilizar a linha do horizonte, degrade para dar efeito de anoitecer no céu, primeiro e segundo planos, e perspectiva para resolver os problemas técnicos ao produzir sua pintura.

Atualmente é aceito pela maioria dos estudiosos da história da arte que, apesar do termo ser surgido durante as exposições da mostra dos recusados, junto ao movimento de pintura do pós impressionismo, e consagrada pelos jornais franceses da década de 1920, a pintura Naïf sempre existiu produzida por artistas populares e em alguns momentos consegue ser considerada arte junto com movimentos históricos, é o que nos afirma Mariza Campos da Paz, Curadora da exposição coletiva de arte Naïf Com Açúcar & com Afeto, realizada na cidade de Araraquara em 2011:

"A Arte Naïf nos acompanha desde o período das cavernas e volta a se manifestar em todos os momentos que a arte teve que recomeçar do Zero como, por exemplo na Idade Média, com a Arte Românica, e nos primórdios da Arte Moderna".(PAZ Mariza Campos da, Curadora da exposição e Presidente da Fundação LucienFinkelstein, Catálogo da exposição com Açúcar & com Afeto,Página 03, 2011).

Já no livro Brasil Naïf, Arte Naïf: Testemunho e patrimônio da humanidade, escrito por LucienFinkelstein, fundador do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, localizado no Rio de Janeiro faz uma reflexão sobre a arte e o artista Naïf:

"A rigor, poderia se dizer que não existe pintura Naïf, mas sim pintores naïfs, pois cada um deles é um mundo em si e diferente de todos os outros. Portanto, querer explicar a arte Naïf é um paradoxo: não se pode definir o indefinível. Pode-se analisar um sentimento, o amor a poesia, a beleza, a pureza, a arte? Todas as palavras, tão grandes e tão simples, são daquelas que não se explicam". (FINKESTEIN, Luceien, Brasil Naïf, Arte Naïf: Testemunho e patrimônio da humanidade, O que é arte Naïf, página 22).

Em muitos eventos internacionais é comum unir na mesma exposição a pintura naïf com Arte Popular Tridimensional. A linha que separa a Arte Naïf da Arte Popular é extremamente Tênue, e no caso do Brasil é uma tarefa ainda mais difícil, pois em solo nacional existem diversas produções de xilogravura, cerâmica figurativa e uma infinidade de materiais e técnicas que mostra a diversidade e criatividade do povo brasileiro.

Em exposições de arte Naïf no contexto contemporâneo é tarefa do curador definir uma linha de diálogo entre as produções para preservar a diversidade e individualidade das produções. Se no caso da produção de arte contemporânea a a função da arte fica em segundo plano, e muitas vezes não é considerada uma questão tão importante; no caso das exposições de arte naïf é de vital importância ir além do só expor, as exposições devem trabalhar de forma multidisciplinar e interdisciplinar, explorando as várias possibilidades estéticas e de interpretações, pois a arte naïf tem um mundo em cada obra repleto de significados e realidades.

Vale sempre observar os valores estéticos, que na atualidade está sempre colocado em segundo plano, e a criatividade do artista. São muitos trabalhos que merecem a atenção do publico, porém como existe uma grande produção de arte naïf nacional, nem tudo acaba chegando ao grande público, e para colaborar a internet vem sendo utilizada como uma importante ferramenta de divulgação e acesso diretamente com o artista produtor da obra.

Lembrando que o contemporâneo está nos temas da arte naïf, e em alguns suportes e formas do público se relacionar com as produções dos artistas. 

Em 2017 será lançado o projeto da MOSTRA DOS RECUSADOS, o melhor da arte Naïf nacional chegará ao grande publico, sua organização terá como ferramenta as redes sociais virtuais, mostrando que hoje a forma de produzir arte naïf no brasil mudou muito, para continuar a existir.

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