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Michel Delacroix - Notre Dame Under Snow ORIGEM: http://www.artsheaven.com/naive-art-oil-paintings.html

A arte que tradicionalmente conhecemos como gótica  já definida nos meados do século XII, foi assim designada pelos italianos do Renascimento, porque eles a atribuíram aos godos, embora estes há muito tempo não existissem como nação quando tal estilo foi criado. Em 1450, Antônio Filarete amaldiçoa o inventor daquela arquitetura que só um “povo bárbaro” poderia ter levado à Itália.

A produção do Gótico, por muito tempo, foi definida  por um estilo confuso e desordenado, em alguns livros definem este estilo como o exagero da arquitetura e justamente na arquitetura que este estilo se tornou popular. Essa opinião ficará incontestada até o período dos pré-românticos, que iniciaram um processo de reavaliação da Idade Média e das sua produção artística e literária.

A catedral de Notre Dame de Paris, (construída entre 1200 a 1240) é o exemplo mais popular da arquitetura gótica, mas podemos ver este estilo também na Catedral de Milão na Itália, que só foi concluída no século XIX (1813), e no Brasil podemos encontrar vários elementos góticos na Catedral da Sé na cidade de São Paulo, obra feita já no século XX. O Gótico é um período muito importante para analisar a evolução da arte Naïf como a conhecemos hoje, e é um estilo que não poderia ficar de fora, pois será retratada pelos futuros artistas naïfs da Europa, como podemos observar na obra Notre Dame Under de Michel Delacroix (Parte superior da página).

A influência gótica na pintura irá surgir, a princípio, como elementos compositivos, numa paisagem ou em móveis, em tronos onde a imagem da virgem com menino Jesus eram retratados, e assim por diante.

Paolo Uccello - São Jorge e o Dragão - (1470 d. C.)

A obra São Jorge e o Dragão, que está no acervo da National Gallery de Londres, pintada por volta de 1470, por Paolo Uccello é classificada  como uma pintura Gótica Tardia, que aqui eu considerei como uma pintura Naïf com várias influências, do gótico, nos elementos compositivos da princesa, na abertura geométrica da caverna do dragão, que já encontramos na pintura de influência bizantina, como vemos em outro São Jorge e o Dragão da Galeria de Tretiakov em Moscou que pertence a escola de Novgorod, feita por volta do final do século XIII a XIV d.C. O colorido brilhante do São Jorge de Paolo Uccello, os elementos da paisagem a ingenuidade da princesa segurando o dragão por uma coleira como se fosse um cachorrinho são elementos que me levaram a considerar a obra como uma pintura Naïf.

Fra Angelico - Tebaida (Cidade de Tebas, no Alto Egito) - (1418 d. C.)

A obra Tebaida (Cidade de Tebas, no Alto Egito), pintada por volta de 1418, atribuída ao artista Fra Angelico, que está no acervo da Galeria Uffizi de Florença é uma obra única, que tem um rico colorido e um poder de diálogar com as obras de outros artistas comentados neste texto, e com a pintura naïf contemporânea, pois encontramos nela muitos personagens, algo comum nas produções de arte naïf contemporânea. Podemos ver  nesta obra as pedras e a arquitetura ao estilo gótico, barquinhos à vela navegam por um lago,  a obra é uma pintura narrativa, onde várias pequenas cenas acontecem nas encostas das montanhas e nas pequenas casas e igrejas, onde podemos ver a utilização de manifestações da arte popular medieval nas curiosas personificações dos ventos que emergem da superfície do mar soprando sobre as velas dos barcos, uma visão quase surreal.

Autor desconhecido - Unicórnio no Cativeiro - (1495 a 1505)

Encontramos no acervo do Metropolitan Museum de Nova York uma curiosa tapeçaria, que recebe como título Unicórnio no Cativeiro, feita por volta de 1495 a 1505, por autor desconhecido, é uma série de sete tapeçarias ilustrando a caça ao unicórnio, essa em questão mostra o unicórnio preso por uma correia a uma árvore dentro de um cercado. A ingenuidade do unicórnio preso e a rica e colorida vegetação em torno dele são elos de diálogo com a pintura Naïf.

Giovanni di Paolo - Criação do Mundo e a Expulsão do Paraíso - (1445 d. C.)

Outra obra também classificada como Gótico Tardio é A Criação do Mundo e a Expulsão do Paraíso, pintada por volta de 1445, pelo artista Giovanni di Paolo, onde podemos encontrar Deus, sendo levados por vários anjos azuis, é a visão inovadora, a cena do quadro se abre em um círculo e temos a visão de um deserto, onde outrora era um jardim verde, e um anjo na figura de um homem de asas guia Adão e Eva para fora do paraíso, a estrutura física dos personagens nus lembram outros personagens de uma obra feita mais a diante, em outro país, o Jardim das Delícias, obra da pintura de estilo Flamengo é um elo de ligação com essa obra, que o arco íris em círculo, a ingenuidade dos personagens diante do pecado cometido ao comer o fruto proibido contrasta com a severidade da punição dada ao erro, a flor que cobre o sexo do anjo as árvores que tem suas folhas pintadas com uma variação rica em cores, a variada vegetação rastejante, são elementos que encontramos nas obras das selvas de Henri Housseau, são elos de ligação com a pintura Naïf contemporânea.

Hans Memling - As sete Alegrias da Virgem - (1480 d. C.)

Na Alte Pinakothek de Munique encontramos a obra As sete Alegrias da Virgem, pintado por volta de 1480 por Hans Memling, que é uma obra única, e nela encontramos muitas referências da arte Naïf, produzida hoje, como a valorização do cotidiano, a riqueza da paisagem e do colorido. O quadro mais parece um cenário de teatro, onde as casas se abrem para que o espectador veja o que está acontecendo no interior dela, podemos encontrar ainda a visão surreal de Cristo e da Virgem surgindo no céu azul, essas são as mesmas referências que encontramos nas fantásticas paisagens de Henri Vitor e nos temas populares de José Luís Soares.

Geertgen Tot Sint Jans - São João Batista no Deserto - (1490 a 1495)

Outro museu que guarda uma obra de incrível beleza e referencia da arte Naïf é a Gemäldegalerie de Berlim, onde encontramos a obra São João Batista no Deserto, pintado por volta de 1490 a 1495, por Geertgen Tot Sint Jans, o título do quadro é uma gostosa contradição, pois o personagem está num iluminado e verdejante bosque cortado pelo Rio Jordão, o que mais me chamou a atenção não foi a figura melancólica do São João Batista mais sim de como as folhas das árvores foram pintadas, parecendo pinceladas uma por uma exatamente como encontramos nas obras de artistas Naïfs contemporâneos, por exemplo nas plantações de café de Nerival Rodrigues. Toda essa riqueza e criatividade, a utilização de coloridos iluminados vão ajudar a preparar o solo das artes plásticas para a chegada do Renascimento das Artes e de novas ideias, que mudaram o mundo Ocidental e a própria história da humanidade.

A Região da Toscana tem importante papel na História da Pintura Universal, região onde boa parte do Primeiro Renascimento se desenvolveu, tanto na arquitetura Florentina, na escultura de Donatello e na pintura que vemos, Paralelamente ao Gótico Tardio e outras importantes produções, como a Pintura no Primeiro Renascimento Italiano. Podemos verificar o quanto a produção do Primitivo Italiano e do Gótico Tardio, contribuiu com as pinturas deste período, principalmente no desenvolvimento das cores, brilhantes e variadas, que deram mais vida nas paisagens e a roupa dos personagens, como analisamos nas pinturas de Masaccio e Fra Angélico, que aqui serão classificados como pintores do Primeiro Renascimento com influência ingênua, dos pintores de Siena.

Para ilustrar melhor essas características, forma e cor principalmente podemos utilizar como exemplo a obra de Henri Vitor, pois quando se fala de paisagem iluminada e visão ampla e colorida a produção dele é uma referência nacional. Na produção de Henri Vitor podemos analisar como o desenvolvimento  da pintura naïf contemporânea pode chegar, ele explora ao extremo a linha do horizonte, as cores do céu e da paisagem como os pintores do período Gótico Tardio. O mesmo encontramos nas produções de Raquel Galena

Henri Vitor - paisagem

ORIGEM: https://www.pinterest.com/pin/468726273690982387/

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