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A ARTE NAÏF DEPOIS DE HENRI ROSSEAU (PÓS - 1910)

 

Antes de dar início ao texto que iremos falar da Arte Naïf depois de Henri Rousseau se faz necessário que tomemos melhor conhecimento da figura de Wilhelm Uhde, pois graças ao trabalho dele é que o termo Naïf ficou popular entre o meio das artes plásticas e ajudou a encontrar novos artistas que tinham as mesmas características de Henri Rousseau. É muito importante deixar claro que só a partir da década de 1920 é que os jornais passaram a utilizar o termo “arte naïf/naïve” para se referir ao fenômeno da aparição de artistas desse gênero pela França e depois pela Europa e mundo.

Wilhelm Uhde nasceu na cidade Friedeberg região da Pomerânia, hoje Polônia em 1874. Era conhecido como um Alemão amante e colecionador de artes, comerciante, autor e crítico, um colecionador de início da pintura modernista, e uma figura importante na carreira de Henri Rousseau e de vários artistas no Pós Rousseau.

Wilhelm Uhde estudou direito em Dresden, mas mudou a história da arte, estudando em Munique e Florença, antes de se mudar para Paris em 1904. Ele foi um dos primeiros compradores das pinturas Cubistas de Pablo Picasso e Braque George. Aliás, a primeira compra de uma obra de Picasso aconteceu em 1905. Uhde se encontrou com Robert Delaunay, Sônia Terk e Henri Rousseau, em 1907, abrindo sua galeria um ano depois, onde expôs André Derain, Braque e Picasso. Uhde encomendou seu retrato a Picasso em 1909 e produziu a primeira Biografia sobre Rousseau em 1911, um ano depois da morte do artista.

Ele se casou em Londres no ano de 1908 com Sarah Stern (mais tarde conhecida como Sonia Delaunay). O casamento era apenas de disfarce, chamado de casamento de conveniência que disfarçaria a sua orientação sexual gay. Eles se divorciaram 1910 e Sarah se relaciona amorosamente com o artista plástico Robert Delaunay, com quem se casa alguns anos mais tarde.

Com o início da 1ª Grande Guerra, muitos alemães que viviam na França tiveram seu bens confiscados pelo estado e muitos se viram obrigados a deixar o país. Como resultado, a coleção Uhde foi confiscada em 1914 e vendida pelo governo francês em uma série de leilões no Hotel Drouot em 1921.

 Helmut Kolle - Retrato de Wilhelm Uhde - 1930

 

Robert Delaunay - Retrato de Wilhelm Uhde - 1907

 

Pablo Picasso - Retrato de Wilhelm Uhde - 1910

 

No período de 1919 a 1927, Uhde trabalhou com Helmut Kolle (1899 – 1931), e viveu com ele um romance até o falecimento do jovem artista, vítima de tuberculose em 1931. Uhde era contra a política de guerra em Weimar na Alemanha e retornou para a França em 1924, passando viver em Chantilly em 1927, onde trabalhou e procurou resgatar sua antiga coleção de obras de arte, confiscada no período da 1ª Guerra Mundial. Durante a II Guerra Mundial se viu obrigado a se esconder. Uhde era judeu e gay, ele passou o período da guerra escondido no sul da França, ajudado pelo crítico de arte e líder da resistência Jean Cassou. Uhde vem a falecer em Paris no ano de 1947.

Henri Rosseau - Navio na tempestada - por volta de 1896

A primeira exposição retrospectiva de Henri Rousseau aconteceu em 1911, no Salão dos Independentes de Paris, e aconteceu uma segunda ainda mais importante em 1912, organizada com a colaboração de Félix Fénéon, e por um homem cujo nome merece destaque, Wilhelm Uhde. È graças ao trabalho de Uhde que a denominação Peintes du dimanche (Pintores de Domingo), como até então eram chamados os artistas como Henri Rousseau, passaria a se chamar de Pintores Naïfs ou Naïves. Em Portugal o termo de pintores de domingo permaneceriá até 1970, com a II Exposição dos Pintores de Domingo, que foi organizada pela Secretaria de Estado de Informação e Turismo, posteriormente o termo mudaria para Arte Naïf. No Brasil foi comum utilizar o termo de Pintores Primitivos até a década de 1970, quando se passou a utilizar o termo Naïf.

Em 1928, Wilhelm Uhde ficou famoso por organizar primeira grande exposição de arte Naïf em Paris, intitulada Les Artistes du Sacré-Coeur (Artistas do Sagrado Coração), foi uma coletiva de artistas que aparentemente teve como principal objetivo realçar não a localização, mas sim a natureza pura e intacta da índole dos artistas. Essa exposição abriu caminho para artistas do Pós -Rousseau como Camille Bombois, Louis Vivin, André Bauchants e Séraphine Louis e aos quais iremos fazer uma breve descrição:

Camile Bombois  - Le repôs des Gens du Cirque (O descanso das pessoas do Circo) - 1930

Camile Bombois (1883 - 1970)

 

Camile Bombois nasceu na cidade de Venarey les Laumes em 3 de Fevereiro de 1883, era filho de marinheiro, quando criança frequentou o barco onde seu pai trabalhava, estudou na escola local até os 12 anos, quando foi trabalhar como agricultor. Durante seu tempo livre desenhava e competia como Pugilista de luta livre em feiras locais. Trabalhou em várias profissões, lutador, pugilista de circo, ajudante de tipografia, mas apesar de todas as dificuldades, nunca deixou de sonhar com a pintura. Chegou a se tornar campeão de luta livre e se juntou a um circo itinerante, vivência que ele iria levar para as telas mais tarde. Em 1907, o artista realizou seu sonho de se mudar para Paris, onde se casou e trabalhou como operário ferroviário. Acabou encontrando um segundo trabalho noturno em uma fábrica de impressão de jornais manuseando pesados rolos de papéis para jornal. Apesar da natureza de seu trabalho exaustivo não deixou de produzir suas pinturas, mesmo dormindo pouco. O artista apresentava sua produção em exposições, feiras e nas calçadas de Paris. Durante esse período vendeu pouco, pois ainda não tinha uma característica Naïf definida.

Em 1914, foi convocado a lutar na I Guerra mundial, iria ficar longe dos pincéis por quatro anos, ganhando condecorações. Após o término do conflito ele retorna para Paris e tem a boa notícia que sua mulher havia conseguido vender as suas obras a um bom preço, ele retoma a rotina de trabalho durante o dia e pintura a noite.

Ele era autodidata, muito seguro de suas pinceladas e o reconhecimento de seu talento estava prestes a acontecer.

Em 1922, expõe seus trabalhos nas calçadas de Montmatre, tradicional local de exposição de artistas de domingo, atrai a atenção de colecionadores e é “descoberto” por alguns amantes da então recém nomeada arte Naïf, entre eles Wilhelm Uhde . Bombois ganha rápida fama e pode se dedicar inteiramente a sua profissão de artista.

Em 1937, Wilhelm Uhde, organiza, em Paris, a primeira exposição com obras do artista, na exposição Maîtres populaires de la Réalité (Mestres populares da realidade). Os críticos fazem elogios à pintura do artista, comparando as semelhanças da produção de Bombois com a obra de Rousseau, porém a produção de Bombois era voltada para temas ligados a realidade vivida pelo próprio artista, e quase nenhuma visão de pinturas de um mundo imaginário.

Camile Bombois  

Imagem da esquerda: Mário, Fratelino e pequeno Walter (193/1940)

Imagem da direita: O Atleta - (1930)

A sua produção não se limitou a temas de ambiente, ou de folclore, mas pesquisou e incorporou na sua obra muitos elementos plásticos, desde a composição, perspectiva e busca pelo colorido. O destaque vai para a obra Athlète Forain (O Atleta), pintado por volta de 1930, que está atualmente no Musèe National d’Art Moderne, Centre George Pompidou de Paris. Nele podemos ver a figura do próprio artista, levantando duas bolas de ferro numa paisagem de Circo, no meio da cidade.

Faleceu em 06 de junho de 1970

Camile Bombois - Nu de costas - S/D

A produção de nus de mulheres merecem destaque como nas obras Le Bras Levé, Nu e uma Mulher nua sentada, nessas obras podemos ver a mesma mulher, que posou para o artista várias vezes, nos levando a fazer uma perguntar, quem seria ela? Uma amante, a mulher do artista, uma antiga namorada, ou apenas uma das milhares de modelos que circulavam as ruas de Paris do início do século XX. A mesma mulher aparece vestida tomando um café e fumando na obra No Bar, atualmente no museu Charlotte Zander, Castelo de Bönnigheim, Alemanha. Encontrei na pesquisa um quadro que aborda um tema das paisagens, que é pouco divulgada. A obra Uma Velha Mansão em Périgueux, pintada pelo artista por volta de 1929. Tem como tema principal uma casa antiga de madeira, onde um grupo de crianças brincam a sombra da velha casa. A obra está atualmente no museu Charlotte Zander, Castelo de Bönnigheim, Alemanha.

Louis Vivin - Notre Dame vista posterior ORIGEM: http://www.arteycuadros.es/historia-de-la-pintura/la-pintura-naif.htm

Louis Vivin (1861 - 1936)

 

Louis Vivin trabalhou por muitos anos nos correios de Paris, sabemos que ele pintava e desenhava desde criança. Em 1922, quando trabalhava nos correios, iniciou sua carreira artística, sendo descoberto por Uhde três anos mais tarde. O artista participava das exposições coletivas organizadas por Uhde e foi assim que conquistou reconhecimento de seu trabalho. Vivin pintava partes de flores, temas de caça, mas foi com as paisagens de Paris que ele ficou conhecido. Diferente de outros artistas Naïfs, Vivin tinha uma harmonia de cores únicas e bem característica.

Louis Vivin - Portão de San Martim de Paris 

ORIGEM: http://www.artsheaven.com/louis-vivin-st-martins-gate.html

Ao ver a obra do artista o espectador pensa: “Essa obra só poderia ser de Vivin”. Conclusão que se chega devido às cores semelhantes a tons pastéis, os prédios da cidade de Paris que ele pintou durante sua vida, arquiteturas e construções eram para o artista algo intrínseco. O destaque vai para a obra Natureza Morta com Borboleta e Flores, pintado pelo artista provavelmente durante a década de 1920, podemos ver um vaso com flores, onde uma borboleta voa sobre uma flor vermelha, destaque para a presença do vermelho e do verde vibrantes, mais pastosos, bem característicos do artista. Na obra O Portão de San Martim de Paris, podemos ver a agitação da metrópole, com o vai e vem de carros e pessoas, seus enormes prédios antigos, com lojas no térreo. As duas obras estão atualmente no Museu Charlotte Zander, Castelo de Bönnigheim, Alemanha.

ANDRÉ BAUCHANT - PORTRAIT D'ANDRÉ BAUCHANT PAR LUI-MÊME - 1938 

ORIGEM: http://sammlung-zander.de/andre-bauchant/

André Bauchant (1873 - 1958)

 

André Bauchant nasceu em Chateau Renault, Indre-et-Loire em 24 de abril de 1873. Durante grande parte da sua vida trabalhou como jardineiro profissional em Touraine, profissão que influenciou a obra do artista, pois amava a natureza. Como muitos artistas Naïfs, ele iniciou a carreira aos quarenta e seis anos de idade. Gostava muito de ler tudo que se relacionava a história e a mitologia, com frequência fazia visitas ao Centro Ocidental da França, onde descobriu cores diferentes, e uma rica luminosidade. No período da I Guerra mundial, foi convocado e enviado para a região da Grécia para fazer parte da campanha de Dardanelos, ao retornar à França sua habilidade para o desenho foram reconhecidos pelo Exército que passou a responsabilidade de fazer mapas. A experiência no exército incentivou o artista a se tornar um pintor Naïf em 1919. Durante toda a sua vida de artista participou de várias exposições que lhe trouxeram a fama e o reconhecimento do seu valor artístico. Falece em montoire-sur-le-Loir, Vendôme em 12 de agosto de 1958.

ANDRÉ BAUCHANT - LE CHAR D'APOLLON - 1928 

ORIGEM: http://sammlung-zander.de/andre-bauchant/

As cores do artista variam num primeiro momento em cores quentes, passando para um segundo período de cores muito vivas. Podemos falar da obra Mãe e Filho com ramo de flores, obra pintada pelo artista em 1922, talvez seja um retrato encomendado, com forte presença do vermelho e do azul esverdeado. A obra Ramo de Flores na Paisagem, pintada em 1926, onde mostra a criatividade do artista ao unir uma natureza morta com uma paisagem, nela podemos ver uma harmonia de cores suaves e um pequeno passarinho em primeiro plano. A obra Amor e Flores, pintada pelo artista em 1929, mostra o quanto ele evoluiu em seus estudos de composição e cor, na obra em questão vemos cinco figuras femininas, talvez meninas bem jovens, brincando em um bosque, por onde corre um pequeno riacho. Ao fundo vemos uma estrada campestre que se divide em dois caminhos, duas árvores que crescem sobre um chão florido e em seu topo um grupo de querubins arrumam uma coroa de flores em formato de coração. Por último a obra Natureza Morta com coelho, pintada pelo artista em 1924, onde podemos observar uma cor mais viva e um apurado conhecimento das estruturas físicas do pássaro e do coelho, abatidos e pendurados. Ainda existe ao fundo um armário com potes e dois vasos com flores, um em primeiro plano e outro mais elevado num armário. As quatro obras estão atualmente no museu Charlotte Zander, Castelo de Bönnigheim, Alemanha.

Imagem de Séraphine Louis pintando em seu ateliê

ORIGEM: http://lounge.obviousmag.org/entre_os_atos/2012/05/s.html

Séraphine Louis (1864 - 194?)

 

A vida de Séraphine Louis foi marcada por perdas. No início de sua vida pela pobreza e pela loucura ao fim da vida. Teve, no entanto o reconhecimento do valor artístico de seu trabalho. A artista nasceu em 3 de setembro de 1864 em Arsy. Seu pai era um operário e sobre sua mãe pouco sabemos, por que ela faleceu no primeiro aniversário da filha e seu pai, que se casou novamente, também faleceu antes da artista completar sete anos. Séraphine Louis passou ainda algum tempo no convívio com sua irmã, mas a convivência das duas era conflituosa, brigas e acusações eram constantes, fazendo com que Séraphine procurasse trabalho bem cedo. Primeiro ela trabalhou como pastora no campo, mas por volta de 1881, foi contratada como trabalhadora doméstica no Convento das Irmãs da Providência, em Clermont. A partir de 1901, foi contratada como governanta por uma família de classe média na cidade de Senlis.

Séraphine Louis  - Caso com Flores 

ORIGEM: https://freemanproject.wordpress.com/2010/08/27/seraphine-louis/

Durante o dia trabalhava duro como empregada doméstica e lavadeira, mas a noite a artista pintava isolada e em segrego à luz de velas, até que seu pequeno acervo foi descoberto em 1913 pelo colecionador de arte alemão Wilhelm Uhde. Uma das obras que Uhde viu era uma natureza-morta de maçãs na casa do vizinho, e estranhamente ficou surpreso ao saber que Séraphine, a faxineira, era a artista. Uhde deu seu apoio para que a artista olhasse para o futuro com mais esperança, quando ele foi forçado a deixar a França em agosto de 1914, devido ao início da I Grande Guerra Mundial entre a França e Alemanha. Uhde era alemão e sua presença em Senlis era indesejável, ele poderia até mesmo ser preso e morto, para não correr risco foi forçado a se refugiar em outro lugar. A amizade com a artista era vista até mesmo com maus olhos, um especialista em arte sendo amigo de uma simples empregada doméstica, era muito estranho para as pessoas daquela época.

Uhde só restabeleceu contato com a artista em 1927, quando voltou à França e foi morar em Chantilly, durante esse período visitou várias exposições, entre elas uma exposição de artistas locais em Senlis, realizada no prédio da prefeitura, lá reencontrou o trabalho de Séraphine, percebeu que ela havia sobrevivido, e sua arte tinha florescido. Uhde começou a patrocinar o trabalho da artista e Séraphine começou a pintar grandes telas de dois metros de altura. Ela conheceu o sucesso e o reconhecimento de suas obras como pintura Naïf.

Séraphine Louis - Ramo de Flores - 1927/1928

ORIGEM: http://www.gseart.com/Artists-Gallery/Louis-Seraphine/Louis-Seraphine-Biography.php

Em 1928, Uhde organizou uma exposição, Pintores do Sagrado Coração, que contou com a arte de vários pintores Naïfs recém descobertos, entre eles Séraphine. A exposição foi um sucesso. Em Paris não se falava de outra coisa, a arte de Rousseau não havia morrido, mas deixado vários seguidores, que na maioria nunca tinham ouvido se quer falar de Rousseau. O sucesso que a artista alcançou foi seguido pela prosperidade econômica, porém estava mal preparada para gerir.

Em 1930 o mundo viveu os efeitos da Grande Depressão, gerada pela quebra da bolsa de Nova Iorque, destruindo verdadeiras fortunas de grandes patronos. Foram tempos difíceis. Uhde não parou de comprar as obras de Séraphine, e graças a essas compras que muitas obras chegaram aos nossos dias. Em 1932, Séraphine foi diagnosticada com uma grave "psicose crônica", sendo internada no hospício onde passaria o resto da vida.

Existem muitas controvérsias a respeito da morte de Séraphine, alguns livros mais antigos falam que Uhde foi informado que ela havia morrido em 1934, outros livros mais recentes dizem que Séraphine realmente viveu até 1942 ou 1943, em um quarto isolado do hospital em Villers-sous-Erquery, onde morreu na mais completa solidão e para completar seu corpo foi enterrado numa vala comum como indigente.

A obra da artista continuou a ser apresentada em várias exposições sendo representada por Uhde. O destaque vai para a exposição Os primitivos modernos, de 1932, promovida em Paris. No período de 1937 a 1938, ocorreu a exposição intitulada Mestres O Popular da Realidade, que foi exposta em Paris, Zurique e Nova Iorque. Em 1942, Os Primitivos da 20th Century, exposta em Paris. Em 1945, Paris viu uma exposição individual da artista.

Podemos considerar o trabalho de Séraphine Louis, uma obra de Naïfs da Natureza Morta, com o desenvolvimento de técnicas e temas bem elaborados e rico colorido. O destaque vai para a obra Bouquet (Ramo de Flores), pintado pela artista por volta de 1927 a 1928, atualmente no Museu Charlotte Zander, Castelo de Bönnigheim, Alemanha. Na obra podemos ver um rico colorido, e um resultado final surpreendente, parece até que a artista colou colhas de verdade sobre a tela, que varia entre o preto, vermelho e verde. A Obra L’arbre du Paradis ( Árvore do Paraíso), pintada pela artista em 1929, exposta no Museu de Arte Moderna de Paris até a década de 1970, mostra o rico colorido e a variação de figuras que a artista utilizava, numa explosão de cores que variam do azul, amarelo, vermelho e preto.

Miguel Garcia Vivancos – Les quais de La Seine (As Margens do Rio Sena - 1957

ORIGEM: http://www.ponzaracconta.it/2013/05/26/oltre-ponza-in-giro-per-isole-procida-10/

Miguel García Vivancos (1895 - 1972)

 

Miguel Garcia Vivancos nasceu em 19 de abril de 1895 em Mazarrón e seria conhecido na história da arte Naïf como Pintor e espanhol anarquista. Aprendiz no arsenal de Cartagena, marchou com sua mãe, viúva e os irmãos para Barcelona. Ele se juntou à organização anarquista engajando ativamente no movimento, foi combater grupos armados que eram favoráveis ao governo espanhol. Durante a Guerra Civil Espanhola, ele comandou a coluna de aguiazinhas em Barcelona, foi combatente na frente de Huesca. Ele levou a Brigada 126 e a Divisão de 25 em Belchite e Teruel.

As tropas do Franquismo eram muito fortes, logo derrubaram os grupos de resistência contra o governo, muitos artistas de diversas áreas e todos aqueles que eram contra o regime de Franco foram perseguidos e mortos, fazendo com que o artista fugisse com a família da Guerra Civil na Espanha para a França. Esteve em 1940 no campo de internamento Vernet d'Ariège, e ficou lá quando iniciou a ocupação nazista. O governo da Espanha dava apoio ao Nazismo e logo houve uma organização da resistência na França, ele se juntaria a mesma.

Após a II Grande Guerra, ele trabalhou em muitos comércios diferentes. Um dia começou a pintar cenas e paisagens de Paris em cachecóis para vender aos soldados americanos. Foi assim que ele descobriu o seu talento para a pintura, logo produziu suas obras em óleo sobre tela.

Em 1947, conheceu Picasso que o recebeu calorosamente, principalmente por que ouviu falar de suas ações durante a Guerra Civil Espanhola. Picasso estava interessado em sua pintura, e através de contatos orientados por Picasso ele foi ficando famoso nos meios das artes. Em 1948, aconteceu sua primeira exposição individual em Paris na galeria de Mirador. O artista Faleceu em Córdoba no dia 23 de Janeiro de 1972.

Eu gosto muito das pinturas de Vivancos, principalmente pelos temas ligados ao cotidiano, com pano de fundo a cidade de Paris, com o seu vai e vem de gente, tingida pelas cores do cotidiano. Vou destacar uma obra do artista que tem como o título As Margens do Rio Sena, pintada por ele em 1957. Na obra podemos ver o início de uma típica feira de arte e artigos de domingo, onde pequenas caixas são colocadas obre os blocos de pedras nas margens do rio Sena. As caixas são mantidas abertas com varetas, tem o aspecto das antigas caixas de frutas de feiras populares, e nelas podemos encontrar pequenos quadros, desenhos, livros de desenhos e pequenos retratos, que nos levam a fazer a seguinte pergunta: Será que o artista vendeu suas obras nessa via de passagem do vai e vem de Paris? É muito provável que sim, e não apenas ele, mas muitos outros artistas. Ainda podemos ver a parte de trás da Catedral da Notre Dame de Paris, com os seus típicos arcos, saindo de uma vegetação verde e amarela, nos levando para a atmosfera da venda de pintura na rua da cidade de Paris de antigamente.

Aristide Caillaud (1902 - 1990)

 

As obras de Aristide Caillaud aparecem em muitos livros de pesquisa sendo considerada, por alguns artigos e especialistas como Art Brut, na qual iremos falar mais adiante, particularmente não considerei a Art Brut, e sim como sendo arte Naïf, mas sendo uma manifestação artística que deve ser analisada de forma distinta, porém, a produção artística de Aristide Caillaud, pode ser considerada um caso a parte, incluída na analise de arte Naïf e também pertencente à Art Brut, aliás, por causa dela é que se considerou por muito tempo que as duas artes fossem a mesma.

Aristide Caillaud nasceu em 28 de janeiro 1902 em Mauleon. Seu pai era Agricultor e uma mãe era Tecelã em Cholet. Em 1914 Aristide Caillaud, estudou, com o apoio de seu tio que era padre e professor na Faculdade de Châtillonsur-Sevre e executa o ensino secundário no Montmorillon. Ele ficou interessado em arquitetura e música antiga, e lidera o grupo de estudantes de teatro. Os estudos são interrompidos quando foi chamado para o serviço militar em Paris, segue uma preparação para Sant Maixent, onde alcançou o posto de oficial. Em 1937, Caillaud se muda para Paris. Em busca da sobrevivência, trabalha em várias funções no supermercado Batignolles nos delicatessen.

Mobilizados em 1939. Em La Roche sur Yon como tenente de um regimento de Tirailleurs na Tunísia. No treinamento foi cercado, se afastou para a floresta mormal então feito prisioneiro e é levado para Haubourdin. Ele estava em sua prisão, localizada 40 km a partir de Dresden. Aristide Caillaud dividiu seu quadro de prisão com Max Ingrand. Na prisão ele faz seus primeiros desenhos em 1941, e em 1944 participa na decoração da capela do acampamento.

Após a Guerra, o artista tinha acabado de se lançar na produção de suas obras, quando em 1946 participa do Salon des Artistes livres, expondo suas obras. Em 1949, ele participou da exposição Art Brut de Dubuffet.

A partir de 1950 ele produziu suas exposições individuais em galerias primeiro em Paris, depois na Alemanha e em seguida em outros continentes.

A primeira exposição retrospectiva da pintura de Caillaud é organizada em Paris em 1964, na Galeria do Incelli Beno, outras são apresentadas em 1971 para abrigar a cultura de Bourges e La Rochelle. Bem como museus de Nantes e Saint Étienne. Em 1974 e 1975, suas pinturas foram exibidas na Alemanha , em Stuttgart, Mainz, Berlim, Frankfurt e Colônia. Duas novas retrospectivas feitas em 1976 no Museu de Arte Moderna de Paris em 1978 e Musee Sainte-Croix de Poitiers.

Ao fim da vida o artista volta a se estabelecer no interior aonde vem a falecer em 1990.

Ainda em território francês vamos dar destaque para as obras dos artistas Naïfs André Bouquet, Van Der Steen, L. Chevalier, L. Barter, Maurice Loirand, H. Chrétien, De Felippi, Geneviève Peyrade, Ray e Anne Baudoin.

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