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Imagem de Henri Rosseau pintando em seu ateliê a obra Homem negro atacado por tigre.

 

ORIGEM: http://www.mutanteggplant.com/vitro-nasu/wp-content/uploads/2015/05/1henriRousseau.jpg 

A CRIAÇÃO DO TERMO NAÏF NO PERÍODO DA BELA ÉPOCA DE PARIS

(ESPECIFICAMENTE 1885 – SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX)

 

No século XIX a Europa vivia a realidade gerada pela Revolução Industrial; novos produtos eram produzidos em maior quantidade, de forma mais rápida e com melhor qualidade. Grandes populações migravam da área rural para as periferias dos grandes centros urbanos, como Londres na Inglaterra e Paris na França, essas pessoas iam em busca de trabalho e melhores condições de vida, algumas migravam para mais longe, indo para as ex-colônias nas Américas.

Com novos materiais produzidos pela indústria as técnicas tiveram que evoluir também, era cada vez mais comum que os pintores utilizassem a tela como suporte e não mais a antiga tábua de madeira e até as tintas eram fabricadas, não sendo mais necessário que o artista produzisse a sua tinta de forma artesanal, como era costume até pouco tempo antes.

A chamada “Arte Acadêmica” chega ao seu auge de perfeição ao qual consegue transferir para a tela a realidade vista pelo artista, que agora consegue produzir mais rápido, pois tem seu material pronto e facilmente disponível para a compra.

Por volta de 1860, a arte ocidental dá sinais de uma crise, pois surgem as primeiras câmeras fotográficas, que pintava com a luz, e em pouco tempo cai no gosto da elite e depois do povo. Contratar um artista para pintar um retrato, ou uma paisagem passou a não ser tão necessário. A pintura teria que se renovar e buscar novos resultados, era necessária a evolução, surge então o movimento mais popular da história da pintura, o movimento dos pintores Impressionistas, que passaram a pintar não apenas a realidade que as pessoas viam, mas a impressão que o artista tinha da realidade e das cores.

Por algum tempo as pessoas continuaram a procurar os artistas para pintar os retratos, e paisagens, por que de início a fotografia não tinha cor, mas logo surgiram alguns fotógrafos que pintavam partes das fotos, para ficar mais real, todos sabiam que não demoraria muito para o surgimento da fotografia colorida.

Os organizadores dos Salões de Arte Oficial de Paris não tinham a visão da evolução natural que estava acontecendo, e selecionavam as obras com critérios já estabelecidos e estáticos. Formar um movimento paralelo seria inevitável. O movimento de arte Impressionista escandalizou a Paris da Belle époque (1871 -1914), pelos temas e pela pintura, o terreno estava pronto para que a arte desse mais um passo, para o movimento dos artistas independentes, chamados de Pós Impressionistas que viria a seguir.

Por volta de 1884, pintores franceses como George Seurat e Paul Sinac, com apoio de outros artistas, fundam o Grupo dos Independentes, e começam a organizar exposições coletivas, paralelas ao Salão de Arte oficial. O Salon des Refusés, ou salão dos recusados, foi o mais importante organizado pelo grupo. Nele qualquer artista poderia participar. Era só pagar uma taxa de 15 francos e já estava participando, sem a necessidade da avaliação da obra inscrita por um júri, algo incomum na época, muitos dos artistas que participavam realmente eram os recusados do Salão de Arte Oficial, mas ficaram mais famosos, do que aqueles que participaram dos salões oficiais.

Henri Rosseau - Un soir de carnaval -  (Uma Noite de Carnaval) (1885/1886)

O ano de 1885 marca o início da arte Naïf, pois foi nesse ano que Henri Rosseau, nosso popular Douanier (Aduaneiro) participou do Salão dos Recusados pela primeira vez, e foi a primeira vez que pôs o público a rir de suas obras. Eu escolhi essa data por que foi o momento em que ele foi incluído e suas obras foram expostas ao lado de outros grandes artistas, criadores de novas técnicas, foi o primeiro passo para a grande jornada que a arte de Rousseau teria que trilhar. A Arte de Rousseau surgiu, ainda que em primeiro momento sem nome.

Devo ressaltar que a arte Naïf não faz parte do Movimento Impressionista, ou de qualquer outra técnica. A Arte Naïf deve ser compreendida como parte do movimento de pintura Pós Impressionista ao lado de novas técnicas que surgiam paralelamente nas exposições, mesmo juntas, a arte Naïf deve ser analisada de forma separada, principalmente por que nem todos os artistas que expunham as suas obras ao lado das produzidas por Rousseau, podem ter gostado delas, sabemos que alguns iriam gostar tanto, que hoje podemos nos perguntar quem influenciou quem? Essa data marca a solidificação da arte naïf como Arte, sendo exposta de igual para igual.

No ano seguinte, em 18 de Agosto de 1886 é inaugurada uma exposição no edifício provisório da Direção dos Correios de Paris, na Place du Carrousel. A organização dessa exposição ficou sob responsabilidade da Société des Independentes (Grupo dos Independentes). A exposição fora formada por 500 obras rejeitadas pelo júri do Salão Oficial, por serem de gosto escandaloso, até mesmo para o pequeno grupo de amantes do Impressionismo. Entre as 500 obras expostas, duas chamam a atenção do público, uma é a Tarde de Domingo na Ilha La Grande Jatte de George Seurat e a outra, Uma Noite de Carnaval de Henri Rousseau. Não é por acaso que destaquei essa exposição, pois os visitantes se rasgavam de rir das obras de Henri Rousseau, chamado de pobre ignorante aduaneiro. Para eles Rousseau não passava de um pintor amador que pintava apenas nos domingos e nas horas livres, e que aquilo não era arte e sim uma aberração da pintura. Os contemporâneos de Rousseau não conseguiram ver que estavam diante de pinturas do futuro. Obras que iriam retratar a sociedade de valores tortos e burgueses ao qual ela foi produzida e que essas imagens é que ficariam para a posteridade.

 

A Arte Naïf está intimamente relacionada com o nome e a figura do aduaneiro Henri Rousseau, foi ele que corajosamente, pintou, expôs, foi duramente criticado e abriu caminho para que a arte Naïf fosse considerada arte das mais valiosas. Existem muitos mitos a respeito de sua vida, espero esclarecer alguns nessa obra literária, pois nosso artista nasceu em família burguesa, e ainda jovem conheceu a pobreza. Na juventude foi obrigado a se alistar no exército, casou, e perdeu seus primeiros filhos. Foi trabalhar como aduaneiro em Paris, onde se casou uma segunda vez, teve uma filha. Após os quarenta anos de idade começou a produzir sua pintura, viveu, sentiu dor, fome, frio, trabalhou duramente, como uma pessoa comum, afinal não é o que todos nós passamos durante a vida? Isso torna o artista muito mais humano.

Agora vamos falar um pouco sobre a vida e a obra do artista que ajudou a abrir caminhos para a arte Naïf e para outros artistas que viriam a seguir. A vida de Rousseau foi cheia de acontecimentos, que iriam influenciar a sua produção, por sua vez, dariam base para as principais características da pintura Naïf contemporânea, contudo seria impossível escrever uma biografia completa sem dar a devida importância aos principais fatos e personagens, que participaram da vida do artista.

Henri Rosseau - L’octroi (A Estação Aduaneira) 1890

Não é o meu objetivo fazer uma biografia completa, cheia de detalhes, pois tomaria grande parte do livro. Baseado em muita pesquisa, selecionei os principais acontecimento da vida de Rousseau, procurando não resumir muito, sendo um texto revelador, que já derruba um mito: Henri Rousseau na verdade não era um Aduaneiro, que traduzindo para o idioma português falado no Brasil, aduaneiro seria um guarda alfandegário, que tinha a função de fiscalizar as cargas que chegavam, via rio por meio de barcos, para abastecer a grande metrópole que era Paris. Ele tinha na verdade um cargo com menor responsabilidade. Rousseau era na verdade um modesto empregado no Octroi (barreira): pequena construção, nas portas de Paris, onde ficavam três ou quatro funcionários, encarregados de verificar os veículos que transportavam vinho, leite, sal, cereais e óleo de iluminação. Todos esses produtos que tinham obrigatoriamente de pagar impostos, para entrar na capital da França. A estação aduaneira seria retratada pelo artista na obra L’octroi (A Estação Aduaneira), pintada pelo Rosseau em 1890, atualmente na coleção do The Samuel Courtauld Institute de Londres.

Henri Julien Félix Rousseau nasceu em 21 de Maio de 1844, na cidade de Laval, interior da França, filho do latoneiro Julien Rousseau e de Eléonore. No período de 1849 a 1860, frequenta a escola Primária e o Liceu em Laval. A partir de 1851, ingressa num internato. Devido às frequentes mudanças que seus pais são obrigados, depois da falência da empresa do pai. Em 1861 a família se muda para Angers.

Durante o período de 1863 a 1867, ele trabalha no escritório do advogado Fillon. Rouba 20 francos, parte em selos e como punição é obrigado a se recolher um mês na prisão pelo tribunal tutelar de menores em Nantes, lá é alistado no 51° Regimento de infantaria de Angers como “voluntário” para serviço militar durante sete anos. Em algumas publicações mais antigas falam que Rousseau, teria ido a uma expedição militar ao México, de onde ele teria tirado as ideias da série de pinturas das selvas, mas isso é uma lenda, não existe qualquer documentação que afirme tal viagem e a pesquisadora e escritora Cornélia Stabenow, afirma categoricamente em seu livro Henri Rousseau, que essa expedição não aconteceu com a participação de Rousseau, e eu concordo com ela.

Em 1868, o pai do jovem artista vem a falecer, Rousseau é dispensado da tropa, antes de acabar de cumprir o tempo de serviço militar. Ele então muda para a capital francesa, a metrópole Paris e vai morar na rua Rousselet, Nº25. Consegue um trabalho, como o oficial de diligência Radaz. Em 1869, casa com Clémence Boitard, uma costureira de 18 anos. O casal teve cinco filhos, mas dentre eles apenas a filha Júlia irá sobreviver.

Em 1871, foi contratado para trabalhar na alfândega de Paris, algum tempo depois se torna funcionário efetivo da empresa. Um ano depois, em 1872, tem suas primeiras tentativas na pintura.

Léon Gérôme - L’ innocence - 1852

Henri Rosseau -Heureux Quartuor (Quarteto Feliz) - 1902

Em 1884, por recomendação de Félix Clément, recebe o prêmio de Roma, e consegue a autorização para pintar e copiar no Museus do Louvre, Luxemburgo, Palácios de Versalles e de San Germain. Muda para a rua de Sèrvres e participa pela primeira vez do Salão dos Recusados.

Uma das obras que Rousseau, se inspirou para fazer uma nova pintura é a obra L’ innocence (A Inocência), obra pintada por Léon Gérôme em 1852, e está no Musée Massey. Dessa obra surgiu a tela Heureux Quartuor (Quarteto Feliz), pintado por Rousseau em 1902, e está atualmente em Nova Iorque, na Coleção Mrs. John Hay Whiney. Foi tentando copiar a arte acadêmica de padrões já estabelecidos e estáticos, que Rousseau criou, de forma inconsciente, uma nova pintura, ainda sem nome e definição.

Henri Rosseau - La Liberté invitant lês artistes à participer à La 22ª exposition des Indépendants (A Liberdade convida os artistas a participar no 22° Salão dos Independentes) - 1906

Henri Rosseau - La Promenade dans La Forêt (Passeio na Floresta)

Em 1885, participa pela segunda vez no Salão dos Recusados, com dois quadros. Recebe o diploma da Académie Littéraire et musicale de France, por sua composição Clémence, valsa com prelúdio, para violino e mandolina, apresentada na sala Beethoven; nosso aduaneiro era músico e tocava violino. Em 1886, seguindo o conselho do pintor Maximilien Luce, Rousseau participa no Salon des Indépendants (Salão dos Independentes), com quatro pinturas, entre elas a sua a famosa Un soir de carnaval (Uma Noite de Carnaval) – (parte superior da página), ele irá participar regularmente desse salão, com exceção dos anos de 1899 e 1900.

Camille Pissarro é um dos seus primeiros admiradores. A relação de Rousseau com o Salão dos Independentes é tão íntima, talvez pelo fato de ele se sentir mais acolhido e menos criticado oficialmente, tanto que chegou a influenciar até mesmo em sua obra. Ele pintaria a obra La Liberté invitant lês artistes à participer à La 22ª exposition des Indépendants (A Liberdade convida os artistas a participar no 22° Salão dos Independentes), obra pintada em 1906, onde podemos ver a liberdade, na figura de uma mulher anjo que toca uma corneta, o quadro está atualmente em Tóquio, no National Museum of Modern Art. No mesmo ano de 1886, ele pinta a obra La Promenade dans La Forêt (Passeio na Floresta), que está atualmente em Zurique, Kunsthaus Zürich.

Henri Rosseau - Rendez-vous dans La forêt (Encontro na Floresta)

Em 1887, os críticos de arte em Paris, comparam sua produção com pintores do final da idade média, os Pintores Primitivos Italianos de Siena, que já falamos anteriormente.

Em 1888, a sua esposa falece, vítima de tuberculose. Suas obras chamam a atenção de Odilon Redon.

Em 1899, fica extremamente impressionado com a exposição mundial de Paris, escreve a peça de teatro Une visite à I’Exposition de 1889, que será publicada por Tristan Tzara em 1947. Pinta a obra Rendez-vous dans La forêt (Encontro na Floresta), uma de minhas obras favoritas. Nela podemos ver um casal do século XVIII se encontrando aos beijos em meio a floresta, a obra está atualmente em Washington, na National Gallery of Art.

Henri Rosseau - Moi-même, PortraitPaysage

(Eu mesmo retrato paisagem) - 1890

Em 1890, pinta uma de suas obras mais famosas, Moi-même, PortraitPaysage (Eu mesmo retrato paisagem), atualmente em Praga, no Národni Galerie. Nela podemos ver o auto-retrato de Rousseau, no Porto de Paris, onde tem um navio atracado, ao fundo, atrás dos prédios vemos a Torre Eiffel, o artista tem nas mãos uma palheta com o nome Clèmence et Joséphine. Entre os admiradores dessa obra está Paul Gaugin.

Henri Rosseau - Surpris (Surpreendido) - 1891

Em 1891, pinta o primeiro quadro com a famosa série de temas das selvas, Surpris (Surpreendido), atualmente exposta em Londres no The Trustees of The National Gallery. A obra é realmente surpreendente, o primeiro impacto que temos é que parece ter sido pintada por um asiático, que realmente viu um tigre de bengala saindo do meio da colorida mata, sacudida por um forte vento. Obtém comentários positivos vindos do jovem pintor Félix Valloton.

Henri Rosseau - Le centenaire de L’indépendance (Comemoração do Centenário da Independência) - 1892

Em 1892, pinta a obra Le centenaire de L’indépendance (Comemoração do Centenário da Independência), que está atualmente numa coleção particular. È muito provável que Rousseau tenha se inspirado numa Xilogravura do Petit Journal, publicada em 11 de Abril de 1891, chamada de La Farandole (A Farândola), que mostra um grupo de pessoas do campo participando de uma dança de roda. Arsène Alexandre comenta a alegoria.

Henri Rosseau - La Guerre (A Guerra)/ “Triunfo da Guerra” - 1894

Em 1893, participa sem sucesso, no concurso para a câmara de Bagnolet. Pede a aposentadoria antecipada, que é concedida.

Em 1894, expõe a obra intitulada La Guerre (A Guerra), traduzida em algumas publicações com o nome de “Triunfo da Guerra”, que está atualmente no Mussée D’Orsay de París, nela podemos ver a personificação da guerra como uma menina de cabelos negros, com a espada numa mão e a tocha de chamas negras na outra, cavalgando num cavalo negro de face pavorosa, num chão cheio de corpos dos mortos pela guerra, entre eles se destaca a figura centralizada do corpo do próprio Henri Rousseau, os corpos são ainda devorados por corvos, numa paisagem destruída e caótica, numa visão que incomoda a todos, mostrando que a pintura Naïf, não basta ver, é preciso enxergar, numa segunda e terceira olhada. No mesmo ano conhece o poeta Alfred Jarry, que será o responsável por criar o termo Naïf, ao se referir a obra do Aduaneiro, surge o termo que irá se consagrar durante os anos seguintes. Em 1895, a litografia A Guerra é publicada na revista L‟Ymagier, editada por Alfred Jarry e Rémy de Gourmont. Escreve uma pequena biografia para a coleção Portraits du prochain siècle, da editora Coutance et Gérard, que não será publicada.

Henri Rosseau - Bohémienne Endormie (Cigana Adormecida) - 1897

Em 1897, pinta a obra Bohémienne Endormie (Cigana Adormecida), exposta atualmente na coleção do The Museum of Modern Art de Nova Iorque, desde 1939. A obra será comentada mais adiante e recebe no mesmo ano um comentário positivo de Thadée Natanson.

Henri Rosseau - Mauvaise Surprise (Surpresa Desagradável) - 1901

Em 1898, participa sem sucesso do Salão de Festas da Câmara de Vincennes. Participa em sessões espirituais do grupo Rosa Cruz. Se torna Masson. Abre um ateliê na rua Vercingétorix, N°3.

Em 1899, escreve o drama La Vengeance d’une orpheline russe, publicado em 1947, por Tristan Tzara. Se casa com a viúva Joséphine Rosalie Nourry. Em1900, visita a Exposição Mundial de Paris, assim como a retrospectiva Cem anos de Arte Francesa. Participa no concurso para a Câmara de Asnières.

Em 1901, mora na rua Gassendi, n°36. A sua mulher abre uma papelaria, onde são vendidas algumas obras do artista. Auguste Renoir fica admirado com o quadro Mauvaise Surprise (Surpresa Desagradável), na obra podemos ver uma mulher nua, que lembra a chapeuzinho vermelho, surpreendida por uma figura que lembra um lobo de garras afiadas, saindo do meio das pedras, é bem provável que a figura da mulher estivesse tomando banho, pois temos como plano de fundo um rio.

Em 1902, trabalha como professor na Associação Philotechinique, onde ensina pintura em porcelana e de miniaturas. Se envolve na campanha do socialista radical Adolphe Messimy.

Em 1903, a sua segunda mulher vem a falecer.

Em 1904, expõe o segundo quadro com o tema das Selva, Explorador Atacado por Tigre.

Em 1905, Participa do Salon d’Automne (Salão de Outono) com algumas obras, entre elas o famoso O Leão Faminto.

Em 1906, conhece o pintor Robert Delaunay e Jarry o apresenta ao Poeta Guillaume Apolinaire.

Henri Rosseau - La Charmeuse de Serpents (A Encantadora de Serpentes) - 1907

Em 1907, é um ano muito produtivo, pinta a obra La Charmeuse de Serpents (A Encantadora de Serpentes), atualmente exposta no Musée D’Orsay de Paris encomendada para Berthe Comtesse de Delaunay, mãe do pintor Robert Delaunay. Comtesse apresenta Rousseau ao colecionador e historiador de arte, o alemão Wilhelm Urde, à pintora russa Sonia Terk, que virá a ser esposa de Delaunay e aluno de Matisse, Max Weber. Começa a organizar soirées no seu ateliê, frequentadas pelos mais importantes mecenas, por personalidades ligadas a literatura e artistas vanguardistas, principalmente os jovens.

Henri Rosseau - Les Rerpésentants des puissances étrangères venant saluer la Rèpublique en signe de Paix (Os representantes dos poderes estrangeiros saúdam a republica como símbolo da Paz) - 1907

No mesmo ano pinta outra obra muito importante intitulada Les Rerpésentants des puissances étrangères venant saluer la Rèpublique en signe de Paix (Os representantes dos poderes estrangeiros saúdam a republica como símbolo da Paz), atualmente no Museu Picasso de Paris.

Henri Rosseau - Luta entre tigre e búfalo - 1908

Em 1908, o artista pinta duas obras Na Floresta Húmida e Luta entre tigre e búfalo, as duas obras são muito parecidas, sendo que a primeira está atualmente no museu Hermitage de São Petesburgo na Rússia, e a segunda em Chevelândia, no The Cheveland Museum of Art. Ambas obras podemos ver um tigre atacando um boi em meio a uma vegetação, onde podemos ver ainda uma árvore surreal, com vária pencas de bananas amarelas. No mês de dezembro acontece o lendário banquete organizado por Picasso em homenagem a Rousseau, no Bateu Lavoir em que a comida foi, por engano encomendada para o dia seguinte.

Henri Rossseau - Retrato de Mulher 1895/97

Henri Rossseau - Retrato de Mulher 1895

O jovem Picasso era um grande admirador do trabalho da figura de Rousseau. Na ocasião os olhos dos convidados são voltados para a obra Retrato de Mulher, que foi vendido no mesmo dia para um negociante, por 5 Francos.

Henri Rossseau -Paysage Exotique (Paisagem exótica com macacos e laranjas)

Estavam presentes para o banquete que não aconteceu, as figuras de grandes personalidades da época como Guillaume Apollinaire e Marie Laurencin, Fernande Olivier, Max Jacob, George Braque, André Salmon, Maurice Raynal, Léo e Gertrude Stein. Os convidados não sabiam, mas a homenagem também seria uma despedida, pois nosso pintor estava vivendo seus dois últimos anos de vida. Ele ainda pinta no mesmo ano a obra Paysage Exotique (Paisagem exótica com macacos e um papagaio), atualmente em coleção particular e a famosa La Carriole du Père Juliet (Carroça Carroça do Padre Juliet) atualmente no Musèe de L’Orangerie de Paris.

Henri Rossseau -La Carriole du Père Juliet (Carroça Carroça do Padre Juliet)

Em 1909, no dia 09 de Janeiro é condenado por fraude bancária, a 200 francos e dois anos de prisão. Teve, no entanto a pena de prisão suspensa.

Pinta a segunda versão do retrato duplo de Guillaume Apollinaire e de Marie Laurencin. O Salão Izdelsky expõe as suas obras em Quieve e Odessa e um ano depois em São Petesburgo e Riga.

Henri Rossseau -Le revê (O sonho) - 1910

Henri Rossseau -Paysage Exotique (Paisagem Exótica - Luta entre gorila e índio) - 1910

Henri Rossseau - Negre attaqué par um jaguar (Negro atacado por um Jaguar) - 1910

Em 1910, expõe a obra Le revê (O sonho), atualmente exposta no The Museum of Modern Art de Nova Iorque, no mesmo ano executa as obras Paysage Exotique (Paisagem Exótica - Luta entre gorila e índio) atualmente no Richmond, The Virginia Museum of Fine Arts. Rousseau pintou dois quadros com o mesmo nome, mas com abordagens diferentes. A obra Negre attaqué par um jaguar (Negro atacado por um Jaguar), atualmente em Basiléia, kunstmuseum Basel. O artista ainda recebe encomendas de Ardengo Soffici, Ambroise Vollard, Serge Férat, Hélène d’Oettingen e outros.

Em 02 de Setembro de 1910, falece no Hospital Necker, vítima de septicemia (processo infeccioso generalizado em que germes são veiculados pelo sangue e nele se multiplicam). O enterro acontece em Bagneux. O corpo ficaria lá até 1947, quando foi transferido para a cidade de Laval, onde permanece até hoje. Apesar de Rousseau se mostrar nos seus últimos anos como um artista de sucesso, tenho algumas fotos de 1907 e 1908, no seu modesto ateliê, onde podemos ver que o artista não vivia no luxo, pouco tinha prosperado no ponto de vista financeiro, não tinha uma vida mais tranquila, ainda trabalhava para se sustentar, como artista. A vida do nosso herói acaba aqui, mas abre caminho para outros que seriam descobertos em seguida.

Henri Rossseau - A ilha de Saint - Louis vista do Porto Saint Nicolas - 1888

Análise da Produção de Rousseau

 

As Imagens da cidade de Paris pelos olhos de um artista Naïf mostram uma cidade ainda desconhecida. Rousseau preferia pintar a cidade de Paris com temas bem diferentes de outros artistas, uma visão da metrópole em momentos de esvaziamento, vistas dos bairros periféricos, das áreas industriais, do campo com vacas, das margens do rio, com barragens e pontes, e até mesmo a imagem do céu de Paris do seu tempo, com as famosas corridas aéreas da modernidade na metrópole, algo que podemos ver na obra Pêcheur à la ligne (Pescadores), pintada em 1908, atualmente no Musée de L’Orangerie de Paris. Em primeiro plano um grupo de pessoas estão pescando no rio, logo atrás podemos ver as casas e árvores, mas é no céu que vemos um pequeno avião, muito parecido com o 14 bis de Santos Dumont, voando num belo céu azul. Em outra obra intitulada de Vue du Pont de Sèrves (Vista da Ponte de Sèvres), pintada por volta de 1908, atualmente no museu Puschkin de Moscou, onde podemos ver no céu voando sobre o rio, um pequeno avião e um dirigível amarelo com cordas.

Henri Rossseau -Pêcheur à la ligne (Pescadores) - 1908

Henri Rossseau - Vue du Pont de Sèrves (Vista da Ponte de Sèvres), - 1908

Hoje sabemos que o artista utilizava vários modelos e recurso para produzir as suas telas, de imagens de outros quadros, expostos nos museus de Paris, até mesmo fotos publicadas nos jornais, algumas de vizinhos e pessoas que o artista conhecia, e locais por onde ele passava todos os dias, toda essa criatividade ajudou Rosseau a criar uma obra única na história da arte.

O retrato seria um caminho enganado do artista? Eu acredito que não, pois muitos artistas apelavam para os temas de retratos como uma forma de sobrevivência, algumas pessoas da elite os procuravam para encomendar seus retratos, e até pagavam bem, porém os artistas ficavam presos a ter que retratar o modelo o mais fiel possível. Muitas vezes tendo que abandonar elementos artísticos próprios para atender a necessidade do trabalho, pois se o retrato não ficasse parecido com o retratado o cliente não pagava.

Os retratos de Henri Rousseau ao que parece simplesmente não conseguia atingir um resultado satisfatório, na visão dos seus clientes e a maioria desses retratos foram apresentados no Salão dos Independentes, seguidos pelas críticas negativas ao qual o artista já estava acostumado, principalmente por parte dos especialistas, acrescentando a gargalhada do público e é óbvio a raiva dos retratados, que tinham pagado pela encomenda.

Na sua busca pela retratação fiel das feições de seus retratados o artista havia desenvolvido técnicas bem peculiares. Ele costumava medir o rosto e o corpo dos retratados com o pincel e transpor as medidas para a tela. Comprava o tubo de tinta com a cor de pele do retratado. O resultado da pintura era na maioria das vezes fora da realidade, pois quando mais tentava se aproximar do realismo, mais se afastava dele de forma surpreendente.

Henri Rossseau - Um casamento campestre - 1904/05

Por volta de 1889, o retrato estava vinculado as mais concretas regras acadêmicas, de forma que não é de se estranhar que ninguém fosse capaz de compreender as imagens dos retratos quase infantis, muito próximas das caricaturas, devido às desproporções, vistas nos trabalhos aos quais Rousseau ousava expor ao público.

Muitos foram os defensores do artista, que tentavam justificar os retratos dando desculpas, atribuindo um novo significado ao ridículo, ou falando que o artista tinha tentado ver através do seu retratado a imagem dele quando criança, mesmo assim não conseguiam evitar o triste fim das obras.

Henri Rossseau -La muse inspirant le Poète (A musa inspirando o Poeta) - 1908/09

Alguns relatos dizem que até Alfred Jarry, publicamente admirador de Rousseau, frequentemente utilizava seu retrato, pintado por Rousseau para prática de tiro ao alvo, e Apollinaire não suportou a visão do duplo retrato La muse inspirant le Poète (A musa inspirando o Poeta), pintado entre 1908/1909, atualmente no museu Hermitage, em São Petesburgo.

Henri Rossseau - Les Artilleurs (Os Artilheiros)  - 1893/95

O retrato das crianças é um caso a parte que merece ter destaque, sabemos que dos cinco filhos do artista apenas Julia viverá até 1956, mesmo a única filha que sobreviveu não cresceu no convívio com o pai artista, muito provavelmente pela condição financeira dos pais, a menina foi criada por parentes numa cidade do interior, mas inconscientemente o artista sentia falta da filha e dos filhos que não tinham sobrevivido, isso se expressa na sua própria criação. Henri Rosseau frequentemente pintava retratos de crianças, e em algumas vezes ao retratar adultos elas ficavam com um aspecto infantil.

Henri Rossseau - Portrait d’enfant (Criança com boneca) - 1905

Henri Rossseau -A Criança e a Marionete - 1903

Sobre os retratos infantis podemos falar dos exemplos vistos na obra Portrait d’enfant (Criança com boneca) pintada pelo artista em 1905, atualmente no Musèe de L’Orangerie de Paris, onde vemos uma menina de olhos verdes e cabelos loiros sentada na grama brincando com uma boneca de cabelos curtos e na outra mão leva uma margarida, e na obra A Criança e a Marionete, pintada pelo artista por volta de 1903, podemos ver uma menina de formas arredondadas com vestido branco, que carrega flores, colhidas no jardim onde brinca com a sua marionete, que é a personificação do próprio Rousseau, comprovado pelos enormes bigodes do brinquedo colorido.

Henri Rossseau - L’enfant aux Rochers (O menino sentado sobre as pedras) - 1895/97

O tempo é o melhor remédio para esse caso, pois ele daria razão ao pintor. Isso pode ser provado na obra L’enfant aux Rochers (O menino sentado sobre as pedras), pintado por volta de 1895/1897, atualmente na National Gallery of Art de Washington, considerado por muitos pesquisadores como uma obra precursora do surrealismo.

Henri Rossseau - Bouquet de Fleurs (Ramos de Flores com Hera) - 1909

Henri Rossseau - Fleurs (Ramo de Flores) - 1895 a 1900

O caso das naturezas mortas devem ser comentadas, pois ao logo do tempo poucos artistas Naïfs tiveram o costume de produzir esse tema, tão popular na história das artes plásticas. Rousseau tinha a liberdade de criar ao pintar, o resultado final era sempre tentar produzir o mais real possível, mesmo assim ficava com um aspecto de pintura com pureza de cor, sem ser incomodada por sombras e harmonia de cores. O destaque vai para as obras Bouquet de Fleurs (Ramos de Flores com Hera), pintada pelo artista em 1909, atualmente no Bufallo (N. Y.), Albright Knox Art Gallery e a obra Fleurs (Ramo de Flores), pintada entre 1895 a 1900, atualmente na Tate Gallery de Londres.

Henri Rossseau - Jogadores de Râguebi - 1908

E para concluir não poderia deixar de fora uma das obras mais famosas do artista, Jogadores de Rúgbi, pintado em 1908 é surreal, os representantes da França são morenos e representações do próprio Rousseau, visto no detalhe dos bigodes. A perspectiva é desproporcional, pois os jogadores são maiores que as árvores.

Pablo Picasso no seu ateliê em de Mougins, com perfil do casal Rousseau, pintado por Henri Rosseau - Foto de 1965

ORIGEM: http://www.swissinfo.ch/por/henri-rousseau/8589080

Henri Rossseau - Auto-retrato - 1900/03

Henri Rossseau - Retrato de Joséphine Rosseau - 1900/03

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