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DJANIRA: A MEMÓRIA DE SEU POVO

MASP - 01/03 A 19/05/2019

Esta é a primeira grande exposição monográfica dedicada à obra de Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, 1914– Rio de Janeiro, 1979) desde seu falecimento há quarenta anos. Autodidata e de origem trabalhadora, a artista surgiu no cenário da arte brasileira nos anos 1940. Embora tenha trilhado sólida carreira em vida, nas últimas décadas Djanira foi colocada de lado nas narrativas oficiais da história da arte brasileira. Esta mostra busca, portanto, examinar o papel fundamental da artista na formação da visualidade brasileira e reposicioná-la na história da arte do país durante o século 20.

O título Djanira: a memória de seu povo — emprestado de uma reportagem dos anos 1970 de Mary Ventura — refere-se à trajetória da artista, à sua história de vida e suas muitas viagens pelo Brasil, bem como sua pintura profundamente engajada com a realidade à sua volta. No caso de Djanira, falar em memória remete ao extraordinário imaginário que a artista criou com base na vida cotidiana, nas paisagens e na cultura popular brasileira, em torno de assuntos frequentemente marginalizados pelas elites. 

Esta exposição inclui obras de todos os períodos da produção de Djanira, do início dos anos 1940 ao final dos anos 1970, e segue um princípio cronológico ao mesmo tempo que reúne trabalhos dos principais temas da artista: retratos e autorretratos, diversões e festejos populares, o trabalho e os trabalhadores, a religiosidade afro-brasileira e católica, os indígenas Canela do Maranhão, entre diversos povos e paisagens brasileiros. 

A obra de Djanira foi por vezes rotulada pela crítica como arte primitiva ou ingênua, classificações que hoje são entendidas como preconceituosas e perversas, pois refletem uma perspectiva elitista e eurocêntrica segundo a qual todos os trabalhos que não seguem os estilos e gostos eruditos tidos como “oficiais” eram considerados menores — primitivos, ingênuos, naïfs. Esta exposição e o livro que a acompanha visam reparar esses equívocos e incompreensões, devolvendo a urgente visibilidade que a obra de Djanira merece e marcando sua presença fundamental na história da arte brasileira.

Djanira: a memória de seu povo inaugura a programação do ciclo Histórias das mulheres, histórias feministas, dedicado a artistas mulheres na programação do MASP durante o ano de 2019. A mostra coincidirá com as exposições de Tarsila do Amaral e de Lina Bo Bardi, a partir de abril, três pioneiras que trabalharam, cada uma a seu modo, a partir de diferentes fontes populares em suas obras no século 20.

Djanira: a memória de seu povo tem curadoria de Isabella Rjeille, curadora-assistente, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP

“Texto complementar – Nota do autor do site Olhos Naïfs – Enzo Ferrara

Se Djanira não é Naïf, então como definir sua produção

 

Depois de visitar a exposição TARSILA POPULAR no primeiro andar do MASP, segui para a parte subterrânea do Museu de Arte de São Paulo, onde foram montada duas exposições importantes. Passei rapidamente pela Exposição da Lina Bo Bardi, segui para a Exposição DJANIRA: MEMÓRIA DE SEU POVO.

A exposição da Djanira não estava tão cheia se comparada a de Tarsila, por isso consegui tirar fotos com mais tranquilidade, e praticamente de todas as obras, inclusive uma em especial, que ilustrava meu livro de literatura do Ensino Médio, e por tanto uma das primeiras obras de Djanira que tive contato, trata-se de “Casa de Farinha”, outras que também conhecia dos livros e até surgem no retrato que pintei de Djanira em seu ateliê são com os temas dos Orixás, Mercado da Bahia e Mina de Ferro.

Apesar da curadora afirmar com plena convicção de que é um erro considerar a produção de Djanira como sendo Primitiva, ingênua ou Naïf, porém a curadoria não deixa claro a qual cenário, se é que isso é possível, a produção de Djanira pertence.

O olhar da curadoria ao afirmar que Naïf é uma arte menor, reforça o preconceito elitista, ao qual pretende combater, ignorando o grande e forte movimento de arte popular que ocorreu a princípio ainda nas décadas de 1940 no Rio de Janeiro, onde Djanira manteve uma residência fixa no bairro de Santa Teresa, ganhou força nos anos de 1950, com a participação e premiação de importantes nomes da arte Naïf nas primeiras Bienais Internacionais de São Paulo. Nessa década Djanira esteve em Salvador na Bahia, onde ocorreram várias exposições importantes, no período em que muitos artistas importantes seguiam para a capital baiana para produzir, pesquisar e propor novos olhares para a chamada Arte Moderna/Contenporânea.

A partir das décadas de 1960, com o forte movimento dos artistas populares, naïfs na Praça da república em São Paulo, é que a arte Naïf nacional ganhou mais visibilidade, conquistou espaço e respeito, abrindo exposições em importantes galerias no Brasil e projetando artistas Brasileiros no exterior.

Dizer que “Naïf é um Rótulo” e que é um termo “Eurocêntrico” é sem dúvida um erro da curadoria, e mostra uma profunda falta de base de pesquisa para sustentar tal argumento, pois seria Eurocêntrica se a arte Naïf fosse produzida apenas na Europa, mas não, a arte Naïf é produzida em vários países ao redor do mundo, inclusive na própria Europa, é claro! isso muito antes de entrar nos Salões dos Recusados pelas produções de Henri Housseau.

O tal do combate a visão “Eurocêntrica” é um tiro no próprio pé, pois se a contextualização da história da arte, a partir da produção Europeia não tem valor, joguemos então todas as obras o acervo permanente do MASP fora, pois elas estão divididas dessa forma e representam uma visão de arte a partir da produção da Europa. Até mesmo o estudo da História da Arte passa por capítulos importantes a partir da produção Europeia. Teria então que se criar uma nova forma de se estudar História da Arte, que fosse mais eficiente do que o método que é utilizado nas faculdades de Artes Visuais, o que não ocorre na atualidade.

Me parece que a curadoria, para construir uma valorização da produção de Djanira, precise destruir e desvalorizar todo o movimento de arte Naïf nacional, como se fossemos menores ou inferiores aos outros, e o mais absurdo é que tal ideia partiu com a aprovação do MASP, só que não!

Se existisse uma arte de “primeira classe”, teríamos que eleger apenas uma arte que serviria de referência para todas as outras seguirem.

Arte é uma criação humana, ligada a uma determinada cultura e sociedade, e que materializa, ou não, os valores dessa mesma sociedade na qual o artista (ou coletivo), produtores da obra estão inseridos. Ao julgar que a arte de um povo é superior a de um outro, estamos afirmando que um povo e sua civilização é melhor que o outro, criando assim um ideal de humanos de primeira e segunda classe, ou seja, as mesmas ideias pregadas por movimentos de Extrema Direita como o Nazismo, e que a história já mostrou que esse é o pior caminho a seguir.

Não existe a arte superior, todas tem o mesmo valor cultural, buscando soluções locais para suas produções. Se cada humano procura ao longo da vida se adaptar ao meio ambiente, buscando soluções para resolver problemas do cotidiano, o mesmo se dá com as produções artísticas. Digo isso, pois recentemente tenho me deparado com questionamentos e afirmações de termos que utilizam as palavras – Arte Menor para se referir a arte Naïf e Popular – e isso tem me preocupado muito.

Voltemos ao assunto Djanira. Assim como nós naïfs da atualidade, Djanira apresenta em sua infância no seio de uma classe trabalhadora, seus temas ligados a assuntos frequentemente marginalizados, o gosto pela cultura popular, e outros pontos em comum de Djanira com os artistas Naïfs como ser Autodidata o que permitiu criar o novo sem as referências da pintura de vanguarda Europeia, criar o novo a partir da retratação da sua própria realidade, criando soluções criativas para solucionar problemas de anatomia, perspectiva e a característica que mais aproxima a obra de Djanira com os artistas Naïfs do Brasil, ao pintar personagens só com o formato do Rosto, sem olhos, boca e nariz, ou seja, sem expressão facial, pois essa expressão surge no corpo ou na cena apresentada, no estilo “Quem vê cara não vê coração”.

Estar pessoalmente diante de uma pintura de Djanira nos permite perceber coisas que numa ilustração não é possível, por exemplo, a tonalidade e a vida da cor, as rachaduras causadas pela ação do tempo, detalhes e texturas. Durante a exposição foi possível ver o diálogo das pinturas de Djanira com a de outros artistas. Não era possível não comparar alguns trabalhos com tema de Festejos populares ou com muitos personagens com a produção de outro artista Naïf. A obra “Folia do Divino” e “Cena de Rua” com as pinturas de Nerival Rodrigues, principalmente pela construção dos personagens no espaço das cenas, o colorido e o movimento.

As viagens de Djanira contribuíram para a valorização do nacional no sentido mais amplo, com valorização da cultura afro-brasileira, indígena (índios Canela) e arquitetura colonial brasileira. Formando um rico mosaico das várias realidades nacionais.

Se Djanira não é Naïf, então como definir sua produção?

Qual estética, estilo e movimento de arte ela pertence e dialoga?

Talvez não seja possível dar uma resposta para esses questionamentos, pois não temos respostas absolutas e definitivas para uma questão tão ampla como essa, apenas apresentar pontos de vistas diferentes para tratar dessa questão. No final das contas eu respeito apenas o que a própria Djanira dizia, ela não se julgava uma artista primitiva, isso muito provavelmente por, e isso deve ser levado em conta, ela ter vivido num período e num meio cultural que estava repleto de preconceito estético, político e social.

Ser um artista popular, ingênuo, primitivo, ou Naïf na década de 1950 é bem diferente de ser um artista Naïf em 2019, já construímos um caminho de valorização da arte e do artista Naif Brasileiro, porém ainda temos muito que trabalhar em solo nacional para que as nossas produções cheguem aos livros escolares, porém a esperança é grande, pois estamos próximos de alcançar esse objetivo.

O trabalho de Djanira é um orgulho nacional e um importante legado cultural para a nossa e as futuras gerações, valorizando e nos dando o orgulho nacional, de sermos um povo multicultural.”

FOTOS E TEXTO COMPLEMENTAR: ENZO FERRARA

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Mercado da Bahia

Técnica: OST

Ano: 1959

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Feira da Bahia

Técnica: OST

Ano: 1956

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Autorretrato

Técnica: OST

Ano: 1944

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Retrato de Milton Dacosta

Técnica: OST

Ano: 1944/46

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Autorretrato

Técnica: OST

Ano: 1944

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Sem Título

Técnica: OST

Ano: Sem Data

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Sala de Leitura

Técnica: OST

Ano: 1944

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Composição I

Técnica: OST

Ano: 1942

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Parque de Diversões 

Técnica: OST

Ano: Sem Data

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Parque de Diversões 

Técnica: OST

Ano: 1944

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Fábrica

Técnica: OST

Ano: 1962

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Folia do Divino

Técnica: OSM

Ano: 1960

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Candomblé (Estudo Para Mural)

Técnica: Guache sobre papel

Ano: 1967

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Candomblé 

Técnica: OST

Ano: 1961

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Três Orixás

Técnica: OST

Ano: 1966

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obra: Candomblé

Técnica: Têmpera sobre Madeira

Ano: 1955

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Conjunto de três obras retratando mina de ferro em Itabira - MG.

Técnica: ASM

Ano: 1976

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Mina de Ferro em Itabira - MG.

Técnica: ASM

Ano: 1976

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Mina de Ferro em Itabira - MG.

Técnica: ASM

Ano: 1976

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Mina de Ferro em Itabira - MG.

Técnica: ASM

Ano: 1976

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Cena de Rua

Técnica: OST

Ano: 1966

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Mercado de Peixe

Técnica: OST

Ano: 1957

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Cena de Mercado 

Técnica: OST

Ano: 1960

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Lapa

Técnica: OST

Ano: 1944

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Estação de Belo Horizonte - MG

Técnica: OS Sobre Cartão

Ano: Sem Data

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Paisagem com Igreja

Técnica: OST

Ano: 1942

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Autorretrato

Técnica: OST

Ano: 1944

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Central Park - NY

Técnica: Guache sobre papel

Ano: 1945

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Patinadores

Técnica: OST

Ano: 1945

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Central Park - NY

Técnica: OST

Ano: cerca de 1945

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Colheita

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1946

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Vendedora de Flores

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1947

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: O Sonho do menino pobre

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1948

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Retrato do Compositor Luiz Cosme

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1948

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Onírico

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1950

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Anjos

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1942

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Briga de Galo

Técnica: OST 

Ano: cerca de 1948

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Parque de Diversões 

Técnica: OST  

Ano: cerca de 1948

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Noite de São João

Técnica: Guache Sobre Cartão

Ano: cerca de 1946

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Parque de Diversões

Técnica: Guache Sobre papel

Ano: cerca de 1948

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Mulher olhando pela janela

Técnica: OST

Ano: cerca de 1950

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Natureza Morta em Sanata Teresa 

Técnica: OST

Ano: cerca de 1953

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Zona Norte 

Técnica: OST

Ano: cerca de 1956

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Empinando Pipa

Técnica: OST

Ano: cerca de 1950

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Caboclinhos 

Técnica: OST

Ano: cerca de 1951

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Ciranda

Técnica: OST

Ano: SD

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Paisagem do Sítio em Paraty

Técnica: AST

Ano: 1965

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras: Largo do Pelourinho em Salvador - BH

Técnica: OST 

Ano: 1956

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Porto da Bahia

Técnica: OST 

Ano: 1954

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Bananal

Técnica: OST 

Ano: 1961

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Nossa Senhora da Conceição 

Técnica: OST 

Ano: 1962

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Estudo para ìndia Canela do Maranhão

Técnica: Guache e nanquim sobre papelão

Ano: 1960

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Sobrado de Azulejos

Técnica: OST

Ano: 1961

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Ritual da Puberdade

Técnica: OST

Ano: 1962

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  tocador de Sanfona

Técnica: OST

Ano: 1960

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Cesteiro n2

Técnica: OST

Ano: 1957/58

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Casa de farinha

Técnica: OST

Ano: 1956

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Costureira

Técnica: Têmpera sobre Tela

Ano: 1951

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Serradores

Técnica: Têmpera sobre Tela

Ano: 1959

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Fazenda de Chá em Itacolomi

Técnica: OST

Ano: 1958

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Cafezal

Técnica: OST

Ano: 1952

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Trabalhador de Cal

Técnica: OST

Ano: 1972

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Trabalhadores de Cal

Técnica: OST

Ano: 1972

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Mineiros de Carvão de Santa Catarina

Técnica: OST

Ano: 1974

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Secador de Areia 

Técnica: AST

Ano: 1974

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Mina de Ferro em Itabira - MG

Técnica: OST

Ano: 1976

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Mina de Ferro em Itabira CVRD - MG

Técnica: OST

Ano: 1976

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Artista: Djanira Motta e Silva

Obras:  Mina de Ferro em Itabira - MG

Técnica: OST

Ano: 1976

Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886-São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século 20 e figura central do modernismo. Esta é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações. 

De família abastada, de fazendeiros do interior de São Paulo, Tarsila desenvolveu seu trabalho com base em em vivências e estudos em Paris a partir de 1923. Por meio das aulas com André Lhote (1885-1962) e Fernand Léger (1881-1955), aprendeu a devorar os estilos modernos da pintura europeia, como o cubismo, para digeri-los e, de maneira antropofágica, produzir algo singular. É importante chamar atenção para a noção de antropofagia, criada por Oswald de Andrade (1890-1954): um programa poético através do qual intelectuais brasileiros canibalizariam referências culturais europeias com o objetivo de digeri-las e criar algo único e híbrido, além de incluir elementos locais, indígenas e afro-atlânticos.

De volta ao Brasil, declarou: “Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior, aprender com os que ainda não foram corrompidos pelas academias”. 

O enfoque da exposição é o “popular”, noção tão complexa quanto contestada, e que Tarsila explorou de diferentes modos em seus trabalhos ao longo de toda a sua carreira. O popular está associado aos debates sobre uma arte ou identidade nacional e a invenção ou construção de uma brasilidade. Em Tarsila, o popular se manifesta através das paisagens do interior ou do subúrbio, da fazenda ou da favela, povoadas por indígenas ou negros, personagens de lendas e mitos, repletas de animais e plantas, reais ou fantásticos. Mas a paleta de Tarsila (que serve de inspiração para as cores da expografia) também é popular: “azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.   

Boa parte da crítica em torno de Tarsila feita até hoje no Brasil enfatizou suas filiações e genealogias francesas, possivelmente em busca da legitimação internacional da artista, mas assim marginalizando os temas, as personagens e as narrativas populares que ela construiu. Hoje, após bem-sucedidas mostras nos Estados Unidos e na Europa, podemos olhar para Tarsila de outras maneiras. Nesse sentido, os ensaios e comentários sobre suas obras incluídos na exposição e no catálogo são elementos fundamentais deste projeto. Não por acaso a polêmica pintura A negra recebe atenção especial dos autores e é um trabalho central na mostra. 

Tarsila popular não busca esgotar essas discussões, que levam em conta também questões de raça, classe e colonialismo, mas apontar para a necessidade de estudar essa artista tão fundamental em nossa história da arte a partir de novas abordagens.

Esta exposição faz parte de uma série que o MASP organiza reconsiderando a noção de “popular”: desde A mão do povo brasileiro 1969/2016 e Portinari popular, em 2016, até Agostinho Batista de Freitas, em 2017, e Maria Auxiliadora, em 2018. Tarsila Popular é organizada no contexto de um ano inteiro dedicado a artistas mulheres no MASP em 2019 sob o título de Histórias das mulheres, histórias feministas. A exposição dialoga com duas outras dedicadas a artistas que exploraram a noção do popular de diferentes maneiras: Djanira: a memória de seu povo, até 19 de maio, e Lina Bo Bardi: Habitat, até 28 de julho. 

Tarsila popular tem curadoria de Fernando Oliva, curador do MASP, e Adriano Pedrosa, diretor artístico do museu.

Texto extraído: (https://masp.org.br/exposicoes/tarsila-popular)

Texto Complementar - Visita:

A Herança cultural de Tarsila do Amaral

 

Por Enzo Ferrara

 

 

“Nenhum artista consegue escapar da influência do contexto, das ideias de seu tempo.”

 -Tarsila do Amaral

Esse é um trecho de um dos textos espalhados pela exposição “Tarsila Popular”, apresentada pelo MASP em 2019, no qual procura mostra ao público a obra dessa importante artista brasileira, sob outro ponto de vista, um olhar mais popular, no sentido de representação do Povo brasileiro.

Não é a primeira vez que estreito contato com a obra de Tarsila. A primeira vez que vi pessoalmente uma obra dela, foi na Bienal Canibal de 1998. Na ocasião o famoso Abaporu estava exposto no Pavilhão Histórico. A cor viva da obra era o que mais chamou minha atenção, suas formas e o fato da obra ser tão popular, a ponto de ilustrar os livros escolares, fazia com que o povo se aglomerasse em torno da obra, algo que se repetiu no MASP mais de vinte anos depois.

Tarsila nunca esteve só, ela sempre dialogou com outros artistas e de outras formas de produção, e o diálogo promoveu uma troca cultural entre artistas, criando novos movimentos culturais e estreitando relações entre esse grande grupo de artistas modernos.

Esse grupo de artistas paulistas da década de 1920 deixou para todos os artistas da geração seguinte um legado, nos ajudou a preparar o terreno nacional para as novas produções, e ajudou a formar público local, para nas décadas seguintes, compreender a importância da libertação das cores e formas nacionais.

Por volta de 1913 Segal em São Paulo, introduziu as novas formas de se expressar no cenário paulista. Em 1917, foi a vez de Anita Malfatti a trazer a libertação das formas em suas exposições tão renovadoras que causaram espanto e críticas ferozes. Então 1922, principalmente depois dessa década vem compor a esse panorama as produções de Tarsila, de cores vibrantes e formas exploradas por uma nova perspectiva.

As cores das obras de Tarsila  já eram nacionais, cores tropicais, encucadas no subconsciente da artista desde sua infância, descobertas no ambiente das fazendas de café no interior de São Paulo, ou vistos no nosso povo de colorido peculiar. Mesmo já com essa percepção, era necessário ir buscar instrução na Europa, para consolidar sua produção, principalmente para ser introduzida e aceita pela conservadora sociedade paulista, onde historicamente sempre teve mais valor o que vinha de fora.

Buscar a inovação na arte moderna Europeia, absorver o melhor, e aproveitar para realizar produções com temas nacionais, foi sem dúvida um ato de revolução cultural, isso somado a um momento histórico cultural onde o ambiente se tornava fértil para essa revolução.

Na literatura Mário de Andrade já realizava essa revolução. Muitos conhecem o famoso livro Macunaíma, onde o personagem principal é um herói anti-herói, de forma exótica, bem ao gosto tropical. Destaco o livro “Contos” de Mário de Andrade, que tem uma escrita mais próxima do português falado nas ruas, nas feiras, uma língua verdadeiramente do povo. Um dos contos reunidos nesse livro é “O Ladrão” e minha dica de leitura. Ao ler é possível observar uma ligação entre os contos, muitos ambientados em São Paulo, com as produções de arte moderna, onde a Estação da Luz, os bondes, os automóvel, o telefone, a agitada vida noturna da grande metrópole, os operários, as ruas comerciais, as regiões de Fábrica como a do Brás não são apenas ambientes, mas elementos fundamentais das produções, gritando:

“ – Estamos no século XX, é tempo de revolução”

Esse tempo de revolução, tecnológica também precisava atingir as artes visuais, e foi o que ocorreu nos anos seguintes a realização da Semana de Arte Moderna de 1922, tomando corpo e forma aos importantes movimentos do “Pau Brasil e de Antropofagia”.

Olhar para a produção de Tarsila é refletir sobre esse momento tão importante, a obra dela é tão inovadora, que às vezes causa um espanto. Observe a obra Pastoral de 1927. O espanto se dá pelo fato de que apesar dos dois personagens da cena serem retratados exatamente como a época pede, então um homem já idoso, vestindo terno e gravata e a menina também com vestidinho branco e sapatinhos com meia, ambos sentados num banco. O ambiente no qual estão inseridos é o que mais contrasta, pois Tarsila inova mais uma vez ao quebrar as regras e normas da antiga Academia de Belas Artes, o horizonte desaparece, e os dois personagens são envolvidos por uma vegetação exuberante, de cores vivas, quase como se estivessem num sonho, o que faz a obra beirar o surrealismo.

O Nu sempre foi um desafio para qualquer artista, pois pintar um nu não é tarefa fácil, é preciso muito estudo, e em alguns casos a escolha muito bem pensada da pose, do sexo do retratado, e felizmente na exposição existem alguns nus femininos que ao ser expostos juntos contrastam entre si, pois uns lembram algo mais próximo da realidade outros são mais geométricos com cores mais vivas.

O tema do trabalho, principalmente o trabalho realizado pelas camadas mais pobres do povo brasileiro, também merecem destaque na produção. Tarsila retratou desde os operários das fábricas, passando pelos agricultores e as costureiras. O que me chamou a atenção é a forma como ela trabalhou a questão do Claro e escuro nessas obras, e também na obra Procissão e nos retratos de Oswald de Andrade e Mário de Andrade, que me lembrou a forma como Di Cavalcanti realizava o claro e escuro em suas obras, me fazendo pensar em possíveis influências, porém nesse caso não vejo que seja possível saber quem influencia quem, ou se essa característica seria algo encontrado nas produções de vários outros artistas, como uma tendência de época. Nesse caso será interessante realizar mais estudos sobre essa questão.

O folclore nacional também aparece retratado em alguns trabalhos muito interessante, que fora do Brasil devem ter causado um estranhamento, é o caso das obras, Batizado de Macunaíma, Urutu e A Cuca, que por si só já é muito inovadora, parecendo ser uma pintura muito atual.

As paisagens de Tarsila nos transportam para vários ambientes, onde são retratados vários locais como o Centro de São Paulo, Favelas, Fazendas, Sertões, Estações de trem e cidades do interior, onde são coloridas com personagens muito simpáticos.

Os tipos humanos são valorizados, tanto na retratação de estado de espírito como no seu drama social, o sofrimento e a esperança de dias melhores retratado na tela Segunda Classe, uma das obras de Tarsila mais claramente com tema de Crítica Social, ou em temas mais intimistas como Maternidade. Tarsila ainda tem o dom de retratar famílias inteiras no qual os personagens são diferentes entre si, porém existe uma semelhança, no qual ela trabalha com os rostos redondos e a tonalidade de pele parecida, mostrando uma relação genética entre os personagens.

Outros personagens têm formas inovadoras, como é o caso das obras A Negra, Antropofagia e o próprio Abaporu, temas nacionais onde a artista reduz ao máximo as formas e elementos da cena, deformando estruturas, colocando somente o essencial, pois a sociedade de São Paulo passava por transformações rápida, se tornando uma sociedade prática, rápida e funcional, como continuamos sendo até hoje, e a arte teria que seguir essa tendência.

Visto que aqui eu falei da importância da Bienal Canibal de 1998, achei muito interessante formar um texto retrospectivo sobre essa Bienal, que foi tão importante para a minha carreira e para o cenário cultural de São Paulo. Esse texto será apresentado posteriormente.

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Autorretrato com vestido Laranja

Técnica: OST

Ano: 1921

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Autorretrato com lenço vermelho

Técnica: OST

Ano: 1921

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Baile Caipira

Técnica: OST

Ano: 1950/61

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Família

Técnica: OST

Ano: 1925

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: costureiras 

Técnica: OST

Ano: 1936/50

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Procissão

Técnica: OST

Ano: 1941

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Maternidade I

Técnica: OST

Ano: 1938

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Trabalhadores

Técnica: OST

Ano: 1938

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Fotografia

Técnica: OST

Ano: 1953

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Segunda Classe 

Técnica: OST

Ano: 1933

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Operários

Técnica: OST

Ano: 1933

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Abaporu 

Técnica: OST

Ano: 1928

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: A Cuca

Técnica: OST

Ano: 1928

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: O Batizado de Macunaíma

Técnica: OST

Ano: 1956

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Antropofagia

Técnica: OST

Ano: 1924

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Feira II

Técnica: OST

Ano: 1925

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Feira I

Técnica: OST

Ano: 1924

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: O Vendedor de Frutas

Técnica: OST 

Ano: 1925

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Composição (Figura só)

Técnica: OST 

Ano: 1930

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: O Lago

Técnica: OST 

Ano: 1928

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Manacá

Técnica: OST 

Ano: 1927

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Cartão Postal

Técnica: OST 

Ano: 1929

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Religião Brasileira I

Técnica: OST

Ano: 1927

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Pastoral

 Técnica: OST 

Ano: 1927

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Porto I

Técnica: OST  

Ano: 1953

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Fazenda

Técnica: OST  

Ano: 1950

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Estudo (Nu – Figura dos quadris para cima)

Técnica: OST  

Ano: 1922

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: O Modelo

Técnica: OST  

Ano: 1922

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Estudo (Academia n° 2)

Técnica: OST  

Ano: 1923

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Morro da Favela

Técnica: OST  

Ano: 1924

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Paisagem com Touro I

Técnica: OST  

Ano: 1925

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Retrato de Oswald de Andrade

Técnica: OST  

Ano: 1923

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Retrato de Mário de Andrade

Técnica: OST  

Ano: 1922

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Autorretrato

Técnica: OSPC 

Ano: 1924

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Estudos para realização de A Negra

Técnica: Desenhos com nanquim sobre papel

Ano: 1923

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: A Negra

Técnica: OST

Ano: 1923

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Autorretrato (com vestido vermelho)

Técnica: OST

Ano: 1923

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Artista: Tarsila do Amaral

Obra: Figura em Azul

Técnica: OST

Ano: 1923

Artista: Tarsila do Amaral

Obra Estrada de Ferro Central do Brasil: EFCB

Técnica: OST 

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